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A situação em torno dos conflitos na Ucrânia é complexa e envolve um conjunto de fatos históricos com interpretações diferentes e fatores dos contextos nacionais e internacional contemporâneos. Ademais, os conflitos ocorrem num momento de agravamento da crise estrutural do capitalismo, quando se acirram as disputas por energia, matérias primas, mercados e tecnologias avançadas.

Assim, a invasão da Ucrânia pela Rússia deve ser entendida no quadro do conjunto das contradições presentes na disputa interimperialista que está ocorrendo em nível internacional. Encabeçada, de um lado, pelos EUA e países da União Europeia e Japão e, de outro, pela aliança entre a China e Rússia[1].

Esta disputa é econômica, tecnológica, geopolítica e militar e se manifesta de várias formas, inclusive em conflitos nacionais e regionais. Como consequência desta situação, há uma corrida armamentista e uma escalada militar em várias regiões do planeta.

No caso específico, o conflito que gerou a guerra tem sua origem mais recente na expansão da OTAN para o Leste Europeu, que se deu progressivamente desde a auto extinção da URSS (1991) e, mais recentemente (2014), a um golpe de estado que derrubou o governo aliado da Rússia na Ucrânia. Mas a Ucrânia não é um território, país ou estado pertencente à Rússia. Depois da revolução russa de 1917, o governo soviético reconheceu (em 1919) a Ucrânia como sendo um outro estado, portanto independente. Em 1922, a Ucrânia optou por participar como estado membro da União Soviética. Mas esta foi uma opção livre e manteve a sua independência e identidade nacional.

O princípio orientador dos revolucionários comunistas é autodeterminação dos povos na perspectiva do internacionalismo e do fim das fronteiras nacionais, em sua grande maioria construções artificiais e arbitrárias. Mas isso só pode ser alcançado quando o povo se livrar do jugo do capital a fim de que todas as decisões sobre fronteiras e nacionalidades sejam tomadas de forma democrática e voluntária, respeitando as diversas culturas, etnias e populações tradicionais.

Portanto, condenamos a invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia. Isso, de modo algum, significa compactuar com a OTAN e com os países imperialistas que a constituem, como os Estados Unidos (principalmente) e outros como o Reino Unido, Alemanha, França e Itália.

A OTAN é o principal instrumento militar conjunto dos EUA e dos países imperialistas do ocidente europeu, tanto para sua expansão militar como econômica. Mas também é uma garantia de ordem interna desses países em eventuais situações revolucionárias populares. Portanto, deve ser combatida e repudiada pelos lutadores de todos os povos. Os Estados Unidos, através da OTAN ou de decisões unilaterais, têm sido e continuam sendo o principal inimigo dos trabalhadores do mundo, especialmente os dominados, dependentes e oprimidos, e pretende continuar sua política expansionista.

Mas isso não naturaliza as agressões militares diretas da Rússia a outros países como a Ucrânia. Todos os envolvidos no atual conflito são países capitalistas, com estados burgueses opressores dos trabalhadores, mesmo que cada um com suas características nacionais particulares.

Todos os países do Leste Europeu e Ásia que fizeram parte da União Soviética ou estiveram sob seu domínio, inclusive militar, são hoje países capitalistas com governos e regimes com alto nível de opressão das/dos trabalhadoras/es, políticas neoliberais e variados níveis de autoritarismo, corrupção e conservadorismo.

Todos fazem apelos nacionalistas para reforçar a hegemonia do capital e de suas respectivas elites governantes associadas ao imperialismo. E o expansionismo imperialista russo não visa a solidariedade aos povos explorados e oprimidos, mas os interesses da classe dominante e da elite dominante nacional.

Porém, é uma grande hipocrisia dos países capitalistas e suas mídias fazerem oposição a isso, porquanto eles próprios, tanto os EUA como outros membros da OTAN, foram os responsáveis pelas maiores, mais violentas e duradouras agressões a outros povos, principalmente após a segunda guerra mundial.

Nossa condenação à invasão das tropas russas na Ucrânia, além de consoante com o princípio da autodeterminação dos povos, se dá também porque, os governos da Ucrânia, seja o atual encabeçado por Volodymyr Zelenski como anterior, de Víktor Ianukóvytch, apoiado pela Rússia, são governos tipicamente de direita sob todos os aspectos, apesar de suas especificidades e diferentes preferências nas relações internacionais. Zelensky tem posições neofascistas e constitui um governo de extrema-direita. Trata de forma condescendente os diversos grupos neonazistas, que proliferam em território ucraniano e mesmo dentro de suas forças armadas, e de forma autoritária os movimentos separatistas do Leste do país.

Já o governo e o regime da Federação Russa, encabeçado por Vladimir Putin, é um governo de direita, autoritário, conservador que tem como principal objetivo a defesa dos interesses de sua grande burguesia, seus oligarcas bilionários, dentro e fora do seu território. Assim, seu expansionismo está ligado a isso e não a uma suposta solidariedade Internacional e apoio a povos oprimidos.

Há uma visão equivocada em grande parte da esquerda, que se posiciona no quadro internacional de modo absolutamente acrítico em relação à Rússia e à figura de Putin, na suposição de que seu governo representaria alguma perspectiva socialista ou uma luta contra o imperialismo em geral, quando na verdade se tratam de conflitos entre potências imperialistas.

Não há resquício real de estado socialista ou estado não capitalista na Rússia. Trata-se de uma potência imperialista e suas movimentações militares estão a serviço da manutenção e/ou expansão desse imperialismo. Na Rússia impera a censura, perseguição e eliminação de opositores, prisão de manifestantes (milhares de pessoas foram presas por se manifestarem contra a invasão à Ucrânia), negação dos direitos LGBTQIA+, constantes mudanças na legislação eleitoral para permitir a perpetuação do poder, entre outros elementos típicos de governos da direita. Enfim, na Rússia nada existe semelhante ao socialismo e a sua política externa não está a serviço da solidariedade ou de apoio a povos oprimidos.

Por isso, apoiamos as trabalhadoras e trabalhadores e todas/os as/os oprimidas/os desses países e a luta contra as suas burguesias, seus governos e todo tipo de ingerência imperialista, na perspectiva de uma revolução popular e do socialismo. Da mesma forma que apoiamos a luta de todos os explorados e oprimidos da Europa em geral, dos EUA e de todo mundo.

– Pela extinção da OTAN e retirada dos mísseis da OTAN dos países do Leste Europeu!

– Pelo fim da guerra e retirada das tropas da Rússia e de todas as tropas estrangeiras, assim como do envio de armas de todos os países para a Ucrânia

– Respeito aos acordos de Minsk e suspensão toda ingerência da OTAN!

– Contra toda pretensão da OTAN de incorporar a Ucrânia e expandir suas bases militares na Europa oriental e na Europa em geral!

– Liberdade para os ativistas pacifistas presos na Rússia!

– Defesa da autodeterminação dos povos e dos direitos de minorias nacionais internas, da autodeterminação dos povos de Lugansk, Donetsk, da Crimeia e da região de Donbass!

– Abaixo o imperialismo!

– Viva a luta pelo socialismo e pela soberania nacional dos povos oprimidos!

Coordenação Nacional da Ação Popular Socialista – APS/PSOL

CNAPS, 28 de fevereiro de 2022


[1] Para leitura abrangente das posições da APS-PSOL sobre a Conjuntura Internacional e o contexto das disputas interimperialistas, veja “Combater o Imperialismo e Avançar na Solidariedade Internacional!” (14/10/2021).  https://acaopopularsocialista.com/2021/11/03/combater-o-imperialismo/

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6 respostas

  1. A minha manifestação é de apoio a ação popular socialista em respeito ao povo ucraniano e seus direitos. E que isso sirva de referência para nos precavermos de governos autoritários e desrespeitados de regras e normas como carta magna. É fundamental que se faça um grande movimento em favor de enaltecer os valores de direitos contruidos em décadas de lutas.

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