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O Rio Grande do Sul enfrenta uma catástrofe ambiental e humana sem precedentes. Até o fechamento desta nota, pelo menos 85 pessoas perderam suas vidas, mais de 130 estão desaparecidas e pelo menos outras 153 mil foram obrigadas a abandonar suas residências após as chuvas no início de maio. O número certamente será muito maior, dado que o estado permanece submerso. Este desastre não é meramente natural; é agravado por políticas que negligenciam a gestão ambiental sustentável e ignoram os alertas de cientistas e ambientalistas. Este é um claro exemplo de como a degradação ambiental está ligada à crise social.

Diante de um evento climático extremo como esse, agravado pela disputa midiática de diferentes narrativas, torna-se ainda mais evidente o negacionismo dos governos. Suas políticas refletem uma visão distorcida e perigosamente inadequada da crise climática. O governador Eduardo Leite (PSDB) intensificou os ataques de seu antecessor José Ivo Sartori (MDB) ao flexibilizar leis ambientais para promover a expansão do cultivo de soja, privatizar infraestruturas e precarizar o aparato público estatal que deveria oferecer respostas rápidas em situações de crise, como a defesa civil.

Agora, diante do estrago, surge o cínico apelo para que o debate não seja “politizado”. Na prática, as vítimas fatais não são simplesmente “vítimas da natureza”, e o número de pessoas em refúgio climático não é mera coincidência. Desde 2009, há alertas sobre a maior incidência de eventos extremos no RS, sem que tenha sido construída qualquer política eficaz de prevenção e/ou combate. Isso revela a barbárie capitalista, com a elite política tentando negar sua responsabilidade diante da realidade. A direita neoliberal e a extrema-direita atuam, inclusive, por meio da institucionalidade. O Projeto de Lei (PL) 364/19, que altera o Código Florestal, desprotege cerca de 48 milhões de hectares de campos nativos em todo o Brasil, incluindo o Pampa, que cobre grande parte da região Sul do país. Além disso, é importante destacar a lentidão do congresso na aprovação e implementação de ações voltadas para a adaptação às mudanças climáticas, especialmente no que se refere à prevenção.

Nossa luta vai além da resposta ao desastre; é sobre transformar nossa percepção e interação com o ambiente. A recorrência de crises “naturais” deve ser um ponto de virada para o desenvolvimento de políticas que promovam não apenas a redução dos impactos, mas também uma reconstrução ecologicamente sensata e socialmente justa do nosso habitat. Isso envolve o planejamento de cidades resilientes, a restauração de ecossistemas degradados e uma revisão crítica dos planos diretores para refletir os princípios ecossocialistas.

As condições de vida na Terra mudaram drasticamente nas últimas décadas devido à expansão da sociedade moderna capitalista e seu modelo de desenvolvimento baseado no consumo, que coloca o lucro acima da vida. Neste momento, a classe trabalhadora, tão precarizada no RS, lamenta novamente a perda de seus entes queridos e do que conquistou e construiu ao longo da vida. Os Povos e Comunidades Tradicionais, constantemente perseguidos e ameaçados em seus territórios, enfrentam as consequências de escolhas que não fizeram. É urgente nos organizarmos para encontrar respostas. Estamos caminhando rapidamente para o abismo, e precisamos abandonar a crença de que uma solução virá do sistema que causou a soma de todas as crises.

A Ação Popular Socialista expressa solidariedade a todas as pessoas afetadas direta ou indiretamente pelos eventos climáticos extremos no sul do país, enquanto reitera a necessidade de uma ação radical para a transformação do sistema capitalista, para que todas as formas de vida possam coexistir neste planeta. Acreditamos que a solidariedade de classe não é apenas uma resposta humana ao sofrimento, é uma demanda política. Promover a cooperação e o apoio mútuo em tempos de crise é a melhor forma de organizar a nossa dor e o luto.

Ecossocialismo ou extinção!

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