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Breve balanço da reunião do Diretório Nacional do PSOL

Rogério Silva*

No último sábado (17/12) o Diretório Nacional do PSOL reuniu-se para debater a relação do partido com o Governo Lula/Alckmin. Dias antes, um importante embate que estava previsto para a reunião ganhou destaque nos principais jornais do país: o PSOL comporia o governo Lula ou o apoiaria contra os ataques do “mercado” e da extrema direita preservando sua autonomia sem entrar no governo?

Considerando o conjunto das opiniões expressas pelas organizações políticas que estão na direção, a posição de não compor governo se mostrava majoritária no partido. Porém, tornar essa maioria em posição oficial mostrou-se um processo complexo e, ao final, produziu resoluções marcadas por ambiguidades.

O PSOL tem se caracterizado por ser um partido de maiorias eventuais, isto é, não necessariamente uma posição majoritária em uma questão se reflete em outra. Desde o início das discussões sobre a tática eleitoral de 2022 essa dinâmica estava expressa no fato de que o PSOL Popular e o PSOL Semente (que formam juntos o campo PSOL de Todas as Lutas) serem favoráveis ao apoio a Lula já no primeiro turno, mas não terem unidade acerca da participação no Governo que, embora esteja em formação, já pode ser caracterizado como de conciliação de classes, não muito diferente do que foram as experiências do passado recente. 

Por diversas vezes, a discussão sobre essa questão foi protelada. A grande maioria do partido compreende que estamos em um momento diferente de 2003. Vivemos as consequências do golpe de 2016, com destruição de parte significativa dos direitos trabalhistas e previdenciários, dentre outros. Hoje estamos diante de uma oposição que será capitaneada pela extrema-direita que conta com base de massas e condições de manter-se mobilizada permanentemente. Conta também com apoio político e material de frações do capital no Brasil, especialmente de setores do agronegócio, do comércio varejista e do capital financeiro. Esse segmento ocupou o espaço político e eleitoral da direita convencional.  

Esse quadro conjuntural nos impõe uma posição tática distinta em relação a que tivemos nos governos anteriores do PT. Naquele período a possibilidade de uma oposição de esquerda ao PT nos permitiu levar o PSOL a uma razoável expressão social e institucional. A direita convencional se opunha ao PT, mas via, no geral, a manutenção dos marcos gerais do neoliberalismo que ela ajudou a implementar, o que esvaziava seu discurso de oposição.

Chegamos aos dias de hoje em um cenário de destruição tão grande que o objetivo de grande parte dos que ajudaram a eleger Lula é aproximar o Brasil do patamar anterior ao golpe de 2016. Este é um objetivo bem rebaixado, já que, ao que tudo indica, mudanças que foram realizadas depois do golpe não serão revertidas, com exceção do teto de gastos que tem se mostrado impossível de cumprir. A perspectiva do povo trabalhador e de grande parte das suas vanguardas sociais e políticas é retomar ao básico de crescimento econômico, renda, empregabilidade e recursos para políticas sociais. Quem sabe ajustes na reforma trabalhista para encaixar as novas modalidades, precárias e sem direitos, de trabalho que estão se proliferando. 

Mesmo essa modesta perspectiva encontrará feroz oposição de setores empresariais, de parte da classe média, de parcelas do aparelho jurídico e coercitivo, de parte da grande mídia e das maiores igrejas evangélicas, que compõem as principais bases do neofascismo à brasileira. 

Por outro lado, o nível de desgaste da classe trabalhadora e dos setores oprimidos com as sucessivas derrotas sofridas gerou, associado à burocratização de grande parte da esquerda, enorme desacumulo político, ideológico e organizativo.

A esquerda, portanto, deve discutir sua localização nesse contexto. A estratégia conciliatória de Lula e do PT é um entrave para mudanças de maior envergadura, mas foi o possível para bloquear uma eventual fascistização do regime político caso Bolsonaro fosse reeleito. O PSOL, assim, deve localizar-se como porta-voz das demandas imediatas do povo trabalhador e apoiar as medidas do futuro Governo Lula/Alckmin que forem nessa direção.  Ao mesmo tempo, deve ter como centralidade política combater a extrema-direita nas ruas e nos parlamentos, isso significa defender o governo eleito de ataques antidemocráticos, antipopulares e antinacionais.

O que defendemos no último DNPSOL é que, para além da tarefa imediata de combate à extrema-direita e recuperação parcial das perdas, a atuação do partido deve ser em perspectiva mais larga no tempo. Isso significa desenvolver uma tática política de acúmulo nas bases da sociedade, ocupando espaços políticos e sociais que foram negligenciados pela esquerda que se acomodou nos governos e na atuação parlamentar. Foi nesse sentido que defendemos que o PSOL não fizesse parte do novo governo que se iniciará e que nossa bancada parlamentar não comprometesse sua autonomia, sendo parte de um bloco de governo que não está dado como será.

Nesse DNPSOL, diferente do MES e do Fortalecer o PSOL que aderiram à proposta do PSOL de Todas as Lutas, criticamos os problemas de seu conteúdo e defendemos o adiamento da discussão da bancada e até mesmo mudar os termos dessa resolução. Não sendo isso possível, optamos pelo voto em resoluções com posições mais nítidas sobre a relação do PSOL com o governo e sobre nossa atuação parlamentar. Depois votamos em emendas que foram apresentadas ao texto vitorioso e que contribuiriam, caso fossem aprovadas, para uma posição menos ambígua do partido. De todo modo, o resultado da reunião foi positivo. A autonomia do PSOL foi, pelo menos formalmente, preservada, tanto em nível nacional quanto nos estados. A disputa em torno desse tema não se encerrou, mas, de toda sorte, o PSOL segue tendo uma correlação de forças interna equilibrada.  

O nosso principal desafio agora é garantir a posse de Lula e organizar as mobilizações populares necessárias para garantir que o programa eleito nas urnas seja efetivamente cumprido. Mas nossos sonhos não devem caber nas urnas, no parlamento ou no Governo Lula/Alckmin. Devemos ir além.  

*Rogério Silva é professor de Sociologia do IFBA e 2º Secretario de Formação Política do PSOL

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Uma resposta

  1. Sacrificamos o nosso direito de apresentar a sociedade brasileira o conjunto de nossa proposta em uma nova maneira de governar. Assim queríamos nos apresentar no primeiro turno. Porém, a experiência do primeiro turno, nos deixou cabisbaixo ( Lula poderia ter perdido a eleição ), A direita se empolgou e achou que poderia vencer o Lula no segundo turno e contava com os rachas da esquerda no segundo turno por conta das insatisfação nas conversações do Lula com membros convidados do centro esquerda e do centro da direita; verdade é que Lula ganhou no segundo turno com quase 2 milhões de votos e o PSOL deu a Lula um pouco mais de 3 milhões de votos. Isto comprova a participação positiva do PSOL em derrotar Bolsonaro, falta agora o PSOL como apoiador independente no governo Lula convencer aos perdedores que eles perderam numa eleição limpa, honesta , transparente e Zé Fenir. Faustino. Jornalista, militante e um dos coordenadores da APS ( RJ), membro da executiva do PSOL ( Nilópolis ), membro da direção do núcleo do PSOL Novo Horizonte e presidente da SCM ( Sociedade Cultural Mesquitense).

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