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Rafael Souza*

Na política é preciso de honestidade. Entre socialistas, ela é imprescindível. O objetivo deste texto é, prioritariamente, trazer ao debate público os esclarecimentos necessários sobre as informações inverídicas trazidas pela corrente Resistência (tendência interna do PSOL), expressas no texto “7o Congresso do PSOL: as polêmicas e um passo à frente na luta contra Bolsonaro”, escrito pelo camarada Deborah Cavalcante, integrante da Direção Nacional da Resistência. Em que pese as divergências táticas, estratégicas e sobre a conjuntura, temos construído espaços comuns nas lutas com os valorosos camaradas da Resistência, e por isso não podemos deixar que informações equivocadas sobre nós e nossas posições sejam tornadas públicas sem as devidas respostas e esclarecimentos.

Algumas considerações iniciais: o perigo do debate com informações não reais

Rebaixar o debate político para defender posição e atacar um adversário é um método que não deveria ser comum entre nós. As divergências existem nesse espaço e são legítimas. Mas tratar os fatos com informações inverídicas é perigoso. Colocar as ações de uma única corrente, por maior que ela seja, na conta de todo um grande e diverso -campo não contribui com o diálogo e nem com as possíveis construções comuns que podemos realizar com os companheiros e companheiras no partido e nos movimentos sociais. A Resistência compõe, com outros agrupamentos, o campo “PSOL Semente”. Numa aliança com o campo “PSOL Popular” (Primavera Socialista e Revolução Solidária), formam o bloco “PSOL de Todas as Lutas”.

Será que a Resistência se sentiria incomodada caso colocássemos as ações isoladas da Primavera como responsabilidade de todo o grupo? A Resistência tem responsabilidade solidária com a composição com o centro e a demora no diálogo com os trabalhadores ocorrida na Prefeitura de Belém? Não compõem o governo, mas no Congresso do PSOL no Pará fecharam chapa com a Primavera. Seguindo a própria lógica de vocês, são igualmente responsáveis por todas as opções políticas da Primavera na Prefeitura de Belém Vou mais além! Nessa lógica também compactuam com as relações orgânicas mantidas pelo PSOL no Amapá com Clécio e Randolph, ambos aliados do DEM. Ou mesmo coadunam com a ausência total de democracia do PSOL na Bahia e as relações espúrias da Primavera Socialista com os setores do governo racista e genocida de Rui Costa.

Nenhuma culpa tem a Resistência sobre isso, mas segundo a régua dos camaradas, teriam total responsabilidade. Da mesma forma, as correntes, coletivos e grupos que integraram o amplo e diversificado campo de esquerda do PSOL nesse 7o Congresso, e em especial a Ação Popular Socialista (que no Congresso atuou no coletivo PSOL que Ousa Lutar), organização na qual milito, não tem nenhuma responsabilidade sobre nenhuma das ações e movimentações individuais de nenhuma outra corrente e, nesse caso, do MES. Não cabe nem trazer para cá as polêmicas envolvendo o caso de Chapecó ou o fatídico muro de Macapá. Por isso é preciso tratar as coisas como elas são, para que não haja acusações sem base real, e nem se crie obstáculos para as construções comuns que muitas vezes são necessárias. Entre socialistas, informação é essencial e honestidade é imprescindível. Debates e polêmicas são importantes, mas sem fugir da verdade real dos fatos.

A primeira verdade: Sobre a “divisão” do PSOL e as posições da esquerda do partido

No VII Congresso não houve grandes novidades a respeito das localizações internas das forças políticas do PSOL. Não foi novidade a composição do PSOL de Todas as Lutas (PTL) composto pela Primavera Socialista, Revolução Solidária, Resistência, Insurgência, Subverta  e coletivos locais. A LSR, que antes integrava esse setor, rompeu com eles, coincidentemente, após a “liberação” de Lula e atuou de forma independente nesse congresso, defendendo, inclusive, candidatura própria do PSOL em 2022.

No campo da esquerda do PSOL, apesar de ter sido apresentada uma chapa unitária, ela não se reflete na construção de um bloco homogêneo. E não há nenhum demérito nisso. A movimentação se deu, prioritariamente, para combater a política do PTL de impor um PSOL que fosse subserviente ao Lulopetismo e de defender uma pré-candidatura própria para 2022. Nesse espaço se localizavam, com as mais diversas divergências, o Deputado Federal Glauber Braga e as correntes MES, APS (através do PSOL que Ousa Lutar), Comuna, Alicerce, Fortalecer o PSOL, Centralidade do Trabalho, CST, LS e o Bloco de Esquerda Radical, dentre outros coletivos regionais.

E nesse ponto cabe os devidos esclarecimentos. A resistência coloca 3 momentos que “criam” esses campos”: o golpe de 2016, a campanha presidencial de Boulos em 2018 e a luta pelo impeachment. Os marcos são falsos, não condizem com a realidade dos fatos e carregam inverdades sobre a questão do impeachment. Primeiro que não foi a atual “maioria” do PSOL que, sozinha, foi contra o Golpe de 2016, “o oposto da atual minoria”. Diversos grupos que estão entre os 43% do PSOL foram contra o Golpe de 2016 contra Dilma. Posso citar rapidamente a APS, a Comuna e até o Fortalecer que, na época, era aliado da Primavera. Sobre a Lava-Jato, essa foi – ao que me parece não é mais – uma posição do MES, e não do campo. Portanto, repito, é desonesto colocar tudo isso na conta de todo o campo.

Sobre a tal contribuição de Boulos no aumento da bancada federal, esse argumento não para em pé. A campanha nacional de Boulos foi a menos votada da história do PSOL e isso se deu pela diluição das diferenças que o partido historicamente representou com os governos de conciliação de classes do PT. A eleição dos parlamentares deu-se muita mais pelo acúmulo anterior do partido do que pela campanha presidencial de Boulos. Mas não vou tomar mais tempo aqui sobre isso. Um terceiro ponto é a questão do impeachment. Todos no PSOL têm se empenhado nessa luta. O PSOL Semente foi um dos últimos setores e aderir a pauta em 2020. E só toparam após o PT sinalizar uma adesão protocolar a um pedido unitário. Assim como houveram inúmeras ações de solidariedade de classe pelo país a partir de movimentações em que a militância das mais diversas correntes, inclusive de fora do campo de vocês, estiveram presentes. Talvez por estar num local de centralidade da política (eixo sul-sudeste) e que tradicionalmente vira as costas para o restante do país – sobre isso, cabe registrar o embranquecimento sudestino da abertura do Congresso do PSOL patrocinado pela Primavera, Resistência e até o MES-, a camarada não tenha conhecimento das ações desenvolvidas. Cito como exemplo alguns ocorridos na Bahia, como o mutirão UNEB pela Vida, do DCE UNEB, organizado por nós com a Resistência e Insurgência. Ou as ações desenvolvidas pela Torcida Bahia Antifascista ou pelo Mandato do combativo Deputado Hilton Coelho, a “união das comunidades” organizada pela militância do PSOL Feira de Santana em conjunto com outros setores.

A segunda verdade: o Fora Bolsonaro é prioridade e consenso no PSOL

O Congresso Nacional do PSOL aprovou o Fora Bolsonaro como prioridade do momento. Essa posição, apesar das diferentes visões internamente sobre uma desidratação – ou não – política e eleitoral de Bolsonaro, é um consenso no partido. Não há um setor do PSOL que não defenda o fim desse governo genocida. O texto da Resistência é desonesto ao afirmar que “a centralidade na defesa do fora Bolsonaro e na luta de rua pelo impeachment” foi aprovada pelos 56% do PSOL de Todas as Lutas. Essa é uma política unitária. Talvez a única que, ao menos nas resoluções, unifica o partido.

Importante registrar que ainda no início da pandemia, quando o MES de forma pioneira encampou o pedido de impeachment com lideranças, artistas e intelectuais, a Resistência foi contra e repudiou esse pedido de impeachment. Naquele momento os camaradas ainda não apoiavam a luta pelo Impeachment. Poucas semanas depois foram atropelados, junto com seus aliados no PSOL, pela conjuntura e mudaram a posição.

Então não há verdade ao afirmar que só vocês priorizam o Fora Bolsonaro. A realidade nua e crua é que os companheiros e companheiras aderiram sem maiores críticas aos métodos vacilantes do PT e da CUT na Campanha Fora Bolsonaro, cujos atos são marcados de forma descontínua, muitas vezes com atos com mais de um mês de distância entre eles, o que não contribui com a intensificação da organização popular para a derrubada do governo, mas sim com a tática de desgaste até 2022 defendida pelo PT para favorecer Lula, ao tempo em que nosso povo segue morrendo de fome, de bala e de covid.

Sobre a frente Povo na Rua, mesmo não sendo necessário dar explicações, registro que nós não compomos tal frente em caráter nacional, e sempre aderimos as agendas da Campanha Fora Bolsonaro. A Povo na Rua, na qual o MES atuou, não foi ação da “minoria” do PSOL. Mais uma vez, reforço a necessidade da honestidade no debate político. Argumentos rasteiros para desqualificar a divergência não devem ser tolerados.

A terceira verdade: a nova composição do PSOL

A tal maioria alardeada a todo momento do texto são se reflete em maioria absoluta, e nem há tanta força interna da Resistência como tentam fazer parecer. A próxima composição da Executiva Nacional do PSOL não será mais diversa e seu aumento casuístico serviu para acomodar setores do PTL. Correntes como a APS e a Comuna, falsamente acusados pela resistência no texto, terão, cada uma, a mesma quantidade de representantes (1) que a resistência na Executiva Nacional, mesmo que em delegação a resistência tenha sido a 4a maior força (e as delegações, na divisão proporcional dos 400 delegados – mais tarde, 402 – não refletem os tamanhos reais das correntes).

O que se diz e o que se faz

Por fim, a camarada aponta que a Resistência não tolera o método da falsificação de posições ou do escracho a quadros e militantes. Talvez tal ponto seja levantado por conta do fatídico e deplorável episódio da votação em Chapecó, onde um militante da referida corrente usou de táticas baixas para garantir, no tapetão, uma maioria não real na votação em Santa Catarina. Mas, indo no inverso do que diz admitir, o texto da camarada se resume, em síntese, em apresentar uma lista de falsificações de posições de diversos grupos, reduzindo todos às posições do MES. As ações e posições do MES, são do MES. As da APS são da APS. As da Comuna são da Comuna. As da Resistência são da Resistência e as da Primavera são da Primavera. É preciso fazer o debate político dentro da realidade, e não dentro das nossas vontades. Termino repetindo a frase com a qual iniciei esse texto, para que fique claro que não vamos tolerar acusações infundadas ou falsificações públicas de nossas posições: na política é preciso de honestidade. Entre socialistas, ela é imprescindível.

*Rafael Souza é estudante de direito, membro da executiva do DCE-UNEB e militante da Ação Popular Socialista (APS/PSOL) na Bahia.

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