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Os grandes atos de 15 de Maio responderam as provocações do governo com a rebeldia de uma juventude que não vai aceitar prejuízos aos direitos conquistados com muita luta. Artigo de Danilo Pereira*, a seguir.

 15 de Maio: A tempestade perfeita

Quando a CNTE divulgou a convocação para a Greve Nacional da Educação não imaginava que esse dia teria tanta força quanto teve. O que houve entre a convocação e a dia do ato pode ser avaliado como um dos grandes acertos dos campos que compõem a esquerda brasileira no último período.

Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro deixou evidente que os professores seriam um dos seus principais alvos. Os ataques que utilizavam fakenews, a campanha de perseguição permanente e as falsas denúncias de “doutrinação” faziam e fazem parte do plano de campanha e posteriormente do plano de governo eleito. Logo a convocatória para uma paralização na educação não tardaria a ser realizada. A questão é que, para muitos setores, a convocação foi tardia e a data foi questionada em muitos espaços, pois daria ao governo tempo e tranquilidade para ser utilizado para tocar a sua pauta.

Mas o que ocorreu foi o inverso, pois o governo se perdeu na sua inabilidade e o ministro escolhido foi tolhido na Câmara de deputados após demonstrar que não tinha nenhum projeto para enfrentar os desafios que o sistema público de educação enfrenta cotidianamente. Sem projeto, o governo foi forçado a trocar a titularidade da pasta e escolher alguém que, além de inábil, é perverso. O novo ministro vem da linha do ideólogo Olavo de Carvalho, guru intelectual do presidente, que despreza a produção de conhecimento, o ensino público de qualidade e a liberdade de pensamento.

O novo ministro trouxe uma série de estratégias que foram aos poucos despertando uma rebelião dentro das Universidades, Institutos e escolas, declarações contraditórias com o cargo que ocupa. Ele é dono de um discurso que propaga a perseguição a educadores e educadoras que têm uma postura crítica em relação ao governo e estes foram construindo espaços de resistência aos ataques que começaram a serem feitos de forma mais sistematizada.

Soma – se a incapacidade do governo gerir uma política de conciliação com setores do congresso e da burguesia brasileira que desse estabilidade para que o presidente eleito impusesse as suas pautas.  Sucessivas derrotas foram deixando evidente que Bolsonaro teria que negociar bastante com a base de Rodrigo Maia e cia para ter algum saldo positivo e essa movimentação atrasou o andamento da reforma e fez com que o debate ganhasse mais espaço no interesse público.

Até esse momento o governo vinha sendo questionado, mas sem grandes mobilizações de rua que levassem à indignação com esse governo. O que mudou? O que criou a tempestade perfeita que foram vistas nos atos de 15 de maio?

Na nossa opinião, o que mudou esse quadro foi uma série de ataques realizados pelos governos que colocaram as comunidades envolvidas em posição de enfrentamento.

Na Bahia, a posição do governo do estado em relação à educação vem sendo muito parecida com o que governo Bolsonaro. Impõe congelamento de verbas, retirada de direitos e corte no salário de professores em greve nas universidades estaduais. Tudo isso colocou mais ingredientes na mobilização que conseguiu unificar os diversos segmentos que atuam em educação. Havia desde professores e professoras de educação infantil até os dos programas de doutorado, o que demonstra uma força e ao mesmo tempo o reconhecimento de que o momento pede mais unidade e companheirismo do que as velhas cisões que fragmentaram as esquerdas e a própria classe trabalhadora.

Na prefeitura de Salvador, ACM Neto também acompanha os dois governos e impõe retrocessos à categoria, retirando da comunidade o direito de escolher os seus gestores, não cumprindo o plano de carreira e sem discutir com os professores e professoras o reajuste salarial que dê mais dignidade ao trabalho docente e administrativo.

Essa situação da Bahia aparentemente se repetiu em outras unidades da federação, pois essa política de cortes de investimentos na educação e perseguição às educadoras e educadores vem sendo uma medida tomada pela maioria dos governos que visam o ataque aos direitos sociais como um ponto chave das suas administrações.

Outro ponto importante a ser considerado foi a postura dos grupos esquerda e a diferença entre essa pauta e o debate sobre a reforma da previdência, onde havia uma divisão entre abraçar ou não a luta contra a reforma como prioridade. Na questão da educação essa dúvida nem existiu. Desde que o governo realizou o contingenciamento das verbas na educação, diversos atores foram se mobilizando para construir estratégias de enfrentamento às políticas deste governo, desde as reitorias aos estudantes, pesquisadores e técnicos que foram se reunindo e tencionando para que parlamentares e políticos se posicionassem contra o corte que coloca em risco o funcionamento das instituições de ensino público no país.

E a data que no início foi vista com desconfiança foi se transformando em uma espécie de dia “D” contra as políticas dos governos. As centrais sindicais, associações de docentes, DCE’s, grêmios e entidades estudantis foram construindo, com base nas políticas dos próprios governos, uma estratégia que deixasse evidente que, independente da escolha feita nas eleições, a unidade para enfrentar as lutas que virão é de fundamental importância para lutar contra os cortes realizados.

Os governos, os ministros e secretários mostraram soberba e foram dormir tendo pesadelos com as ruas lotadas de jovens, mulheres, senhores e senhoras de idade dividindo por aquele momento o mesmo espaço nas ruas. Tivemos atos durante todo o dia respondendo a cada provocação do governo com o deboche e a rebeldia de uma juventude que não vai respeitar nenhuma política que tenha por objetivo prejudicar os seus direitos conquistados com muita luta. Um puxando o outro, se prolongando como uma palavra de ordem que ecoou entre os quatro cantos e caiu como uma tempestade no governo Bolsonaro, que enfrenta o seu inimigo mais forte: os movimentos sociais organizados e unificados enfrentando os retrocessos que o seu governo tenta implementar.

* Danilo Pereira é Formado em letras vernáculas pela UFBA, é do campo Educar na Luta e da Assessoria do deputado Hilton Coelho (PSOL-Ba)

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Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião do site

 

 

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