Que o povo da Venezuela decida seu futuro! Independentemente das críticas que temos ao governo Maduro, trata-se de defender incondicionalmente a soberania do povo venezuelano. Nota da APS/PSOL, a seguir.
Nota da APS/PSOL sobre a Tentativa de Golpe na Venezuela
Não ao Golpe. Que o povo da Venezuela decida seu futuro. EUA, Go Home!
Mais uma vez a direita venezuelana e seus aliados externos, como o imperialismo dos EUA e Bolsonaro, foram derrotados no intento de promover um golpe de estado naquele país.
- O farsante pseudo e autoproclamado “presidente” Juan Guaidó, que liderou a ação reacionária, anunciou na manhã da terça-feira que as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas teriam aderido à oposição e estariam lhe dando suporte político e militar. Sus declarações foram dadas ao lado de outro líder da extrema direita do país, Leopoldo López, que estava foragido de uma prisão domiciliar, e de um punhado de militares. Eles, junto com grupos de civis igualmente armados, tentaram atacar quarteis e bloquear estradas, tentando criar um cenário de caos.
- Entretanto, logo se verificou que suas declarações grandiloquentes não passavam de mais uma farsa. Além do grupo de militares ser pequeno, uma parte dos soldados foram manipulados e mobilizados pelos chefes imediatos sem ter conhecimento das reais motivações da movimentação militar. No final, Lopez pediu asilo político na embaixada da Espanha e cerca de 25 militares pediram asilo na embaixada do Brasil.
- A crise na Venezuela e a nova tentativa de golpe, se inserem dentro de um conjunto de agressões na América Latina onde a situação continua se agravando com a ofensiva das direitas nacionais e do imperialismo dos EUA que busca compensar seu relativo enfraquecimento econômico com ações geopolíticas e militares visando o saques de nossas riquezas, como o petróleo, e a superexploração do trabalho em condições ainda duras para nosso povo. E agora, conta com o governo Bolsonaro agindo para reforçar essa agenda.
- Após as ondas de lutas na região, entre o final da década de 90 e o início dos anos 2000, que culminaram com a conquista, de governos menos submissos aos ditames dos EUA e, ainda que com ambiguidades, até de governos de tendência anti-imperialista, cujo exemplo mais simbólico foi o de Chávez na Venezuela, o que predomina é a crise econômica, social e política, em parte alimentada pela influência direta do governo dos EUA (caso da Venezuela) ou de frações do capital estadunidense e a sabotagem das burguesias internas.
- Entre o ano de 2002 e a explosão da crise mundial em 2008 o continente latino-americano experimentou um relativo crescimento econômico baseado num modelo neodesenvolvimentista que, com particularidades nacionais, esteve assentado no processo de reprimarização da economia em função da alta dos preços e das exportações de commodities, principalmente minérios, soja, gado e também petróleo.
- Alguns países, como o Brasil, ainda conseguiram retardar os efeitos da recessão mundial por algum tempo. Entretanto, a partir de 2013/2014 a crise se instala com força total com altas taxas de desemprego passando dos dois dígitos percentuais. Venezuela, Colômbia, Argentina e, em menor medida, Equador, seguiram o mesmo diapasão e viram suas economias em crise. As previsões de crescimento do PIB para a América Latina em 2019 estão em torno de 1%, bem abaixo da média mundial que, entretanto, também será baixa e não deve chegar a 3%.
- O componente político dessa crise foi o recrudescimento de uma direita que rompeu com a tendência anterior, de conquistas de governos relativamente menos autoritários. Há poucos anos tínhamos assistido conquistas eleitorais importantes como os casos de Venezuela, Bolívia e Equador, países que tiveram governos mais à esquerda.
- Chávez chegou ao governo aclamado pelo povo em 1999 e desde então a Venezuela incentivou energias transformadoras na América Latina. Num momento da história marcado pela investida neoliberal, quando a globalização imperialista imprimia cada vez mais miséria e perversidade, impulsionando um novo ciclo de guerras e atrocidades, a luta do povo venezuelano – que tinha em Chávez sua principal liderança e referência pública – veio na contramão de tudo isso, denunciando o imperialismo norte-americano e o capitalismo, e contribuindo para a renovação das utopias.
- A Revolução Bolivariana da Venezuela surgiu como um exemplo de resgate da trajetória heroica da luta popular, em sintonia com as demandas populares concretas e em perspectiva histórica anti-imperialista, antilatifundiária, anti-oligopolística e democrática radical, e contribuiu objetiva e subjetivamente ao avanço das lutas populares em Nossa América.
- O objetivo político dos EUA de derrotar o projeto bolivariano, por qualquer meio, sempre esteve na pauta do imperialismo. Eles querem tanto saquear as riquezas como o petróleo, como provocar uma derrota política a um projeto que anunciou uma independência real. Contudo, a situação se complicou após a morte de Chávez, em março de 2013, mesmo com a difícil vitória de Nicolás Maduro nas eleições do mesmo ano. Se fortaleceu uma tendência de desestabilização política da Revolução Bolivariana por parte do imperialismo norte-americano dada a vitória dos golpes anteriores no Paraguai e Honduras, e o desenvolvimento das técnicas de desestabilização de regime opositores sem o ônus político de uma intervenção armada estrangeira, ou de um golpe militar tradicional. O golpe no Brasil e as derrotas de projetos neodesenvolvimentista na Argentina e Equador, aprofundaram o isolamento do governo venezuelano, animando as perspectivas golpistas dos EUA e da direita doméstica e internacional.
- Por outro lado, estas circunstâncias vieram complicar a situação, provocando um impasse na continuidade do projeto bolivariano – que já tinha suas limitações e ambiguidades – o que tem aprofundado suas contradições internas, mostrando a incapacidade das forças governantes de gerarem uma verdadeira saída revolucionária para a crise e aguçando os interesses norte-americanos na região, visando desestabilizar e derrubar o governo.
- O bloqueio diplomático e econômico externo e o boicote econômico de parte da burguesia venezuelana, além da especulação e corrupção presentes entre a própria chamada “burguesia bolivariana”, confluíram para um aprofundamento da crise. Geraram seguidas crises de abastecimento, provocando, além de consequências econômicas e sociais de muita dificuldade para a subsistência da maioria da população e aumento da pobreza, do desemprego, da hiperinflação fora de controle gerando uma duríssima carestia, e uma insatisfação política generalizada no meio do povo.
- No entanto, com o apoio de parte da população e das Forças Armadas, o governo tem conseguido sobreviver a várias tentativas de golpe e até ameaças de invasão estrangeira, particularmente dos EUA. O país irmão enfrenta ainda um bloqueio internacional da maioria dos países mais importantes da Europa e da maioria do próprio Parlamento Europeu, do Grupo de Lima (países americanos com governos de direita) e até da OEA (Organização dos Estados Americanos), que decidiram apoiar o deputado Juan Guaidó, que se autoproclamou pseudo “presidente” da Venezuela, sem legitimidade e sem base legal.
- Com apoio da Rússia e da China, que têm dado respaldo político e diplomático e mantido relações econômicas e militares (comércio bilateral, investimentos diretos e financiamentos), o governo tem conseguido aliviar parcialmente a carência alimentos, medicamentos e outras mercadorias de consumo popular. E viabilizado a importação de armas e munições da Rússia e da China e de algum tipo de apoio técnico-militar pelo menos dos russos. Entretanto, isso tem significado menos uma atitude de solidariedade internacional e mais um ação que visa interesses econômicos e geopolíticos dessas duas potências em sua disputa global, de características interimperialistas, com os EUA. E, nesse quadro, a Venezuela, ao invés de avançar no rompimento da dependência, acaba aprofundando-a com a alienação de importantes reservas de riquezas naturais para as potências aliadas a Maduro.
- Mas, independentemente das críticas que temos ao governo Maduro, não se trata de defende-lo, mas de defender incondicionalmente a soberania do povo venezuelano. Portanto, a prioridade do momento é de repudiar toda movimentação golpista da burguesia e da elite liberal conservadora venezuelana aliada dos EUA e outros governos latino-americanos submissos aos interesses daquele imperialismo, como os do Brasil e da Colômbia.
- Nesse cenário de movimentações do imperialismo na América Latina, visando impor seu projeto geopolítico e seus interesses econômicos, que inclui o saque às nossas riquezas naturais e a regressão dos avanços e conquistas populares, assim como barrar as possibilidades de aprofundamento das transformações sociais e dos acúmulos emancipatórios e anti-imperialistas, impõe-se a atualidade da solidariedade a todos os povos nas suas lutas históricas pela democracia, a independência nacional e o socialismo. E isso inclui um posicionamento claro contrário às agressões militares externas, aventuras golpistas e bloqueios econômicos.
Repudiamos toda tentativa golpista da direita venezuelana!
Fora o imperialismo da Venezuela!
Que o povo venezuelano decida seu futuro!
APS/PSOL – Ação Popular Socialista
3 de maio de 2019
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