Resolução da CNAPS – 7 de fevereiro de 2025
Diante da profunda crise social na Síria, a queda da ditadura de Al-Assad gerou festas nas ruas. Isso é compreensível diante do terrível quadro vivido pelo povo sírio. Mas, não há sinais de um futuro de paz e democracia e justiça social na Síria.
Depois que Al-Assad se rendeu, diante da implosão de seu exército, das traições e da ausência de aliados nas horas cruciais, ele foi para o exílio na Rússia. A implosão rápida do regime comprovou que o governo oficial da Síria havia perdido praticamente todas as bases sociais e políticas de sustentação.
Além dessa situação que já era prolongada, o arranjo das forças vitoriosas se aproveitou também do contexto internacional, especialmente da situação mais imediata da bipolarização interimperialista e da prioridade da Rússia para a guerra na Ucrânia.
Breve Histórico
Mas é importante ter uma visão, mesmo que muito panorâmica e breve, dos antecedentes históricos mais imediatos à situação atual.
A Síria tem uma história civilizatória milenar muito rica, passando por vários contextos até o domínio do Império Otomano a partir do século XVI. Após a primeira guerra mundial, com a derrota e queda do Império Otomano, a Síria passou a ser dominada pela França. Depois de muitas revoltas, acabou conquistando a sua independência em 1946.
Em março de 1963, houve uma revolução popular desencadeada por um golpe de estado liderado por intelectuais e jovens militares nacionalistas de tendência democratizante, popular, laica e simpatias socializantes que conquistou o poder.
Depois de vários conflitos e lutas internas houve um novo golpe em 1966, quando foram afastadas as lideranças dos setores que tinham projetos mais avançados. Cinco anos depois, através de um terceiro golpe de estado em 1971, chegou ao poder Hafez Al-Assad, que governou até o ano 2000 passando a presidência ao seu filho Bashar Al-Assad, que governou até 2024.
53 anos de domínio da família Al-Assad
Iniciou-se, então, uma tendência mais pragmática e à direita do processo original, porém ainda trazendo uma melhora significativa nas condições materiais da vida do povo sírio. Porém, com autoritarismo e o reforço de um poder familiar de vertente muçulmana alauíta, que é um agrupamento islâmico minoritário na Síria.
Apesar de ser formalmente uma república presidencialista, o poder presidencial foi sendo reforçado e transformado, de fato, numa ditadura com culto à personalidade do chefe, um regime com uma espécie de corte familiar hereditária.
Hafez Al-Assad manteve uma boa relação com a URSS, mas, com a implosão do regime burocrático soviético, o governo sírio promoveu mudanças, inclusive tentando alterar suas relações internacionais. Começou a aplicar políticas neoliberais em voga e se aproximou do ocidente, mantendo com os Estados Unidos e Europa uma política ziguezagueante, pois EUA e UE pretendiam concessões maiores. Entretanto, devido as suas novas políticas econômicas sociais reforçadas pelo neoliberalismo, as condições de vida do povo foram progressivamente piorando.
Hafez al-Assad foi colocando nos principais cargos do governo todos seus familiares, além de aderentes com base em confiança pessoal. Escolheu como seu primeiro sucessor o seu irmão mais novo, que, entretanto, em 1984 tentou antecipar o seu próprio poder através de um golpe militar. Foi derrotado e, então, seguiu para um exílio confortável na Europa. O segundo na linha da herança política seria o seu filho mais velho que, todavia, morreu em 1994 num acidente quando dirigia um carro de luxo em alta velocidade. O terceiro da linha sucessória foi Bashar al-Assad, que acabou ascendendo ao poder no ano 2000, após a morte do pai, para consolidar a dinastia.
Ele aplicou uma política tendencialmente antipopular e forte repressão a qualquer tipo de oposição. Seguiu, de certa forma, a mesma linha de seu pai, porém em condições econômicas e sociais mais difíceis. Enfrentou diversos protestos populares, especialmente a partir de 2011, quando ocorreu a chamada “primavera árabe” que, na sua origem, foi uma legítima manifestação de setores populares em luta por melhores condições de vida e liberdades políticas democráticas.
Repressão e guerra civil
A repressão violenta promovida pelo governo de Bashar al-Assad acabou facilitando condições para o avanço e fortalecimento do jihadismo fundamentalista do tipo mais sectário, inclusive terrorista, como foi o da organização paramilitar “Estado Islâmico” (ISIS). Surgiram também outras dissidências, inclusive dentro da burocracia estatal civil e militar. Esse processo também contou com apoio de forças estrangeiras como os EUA, a Turquia e Israel – visando desestabilizar e derrubar o governo.
Al-Assad conseguiu reprimir violentamente a oposição civil, mas não o avanço da oposição militar, tanto a do Estado Islâmico como dos grupos apoiados pelos EUA ou Turquia. Ao mesmo tempo, o histórico movimento nacional pela independência do Curdistão aproveitou o contexto para controlar seu território, gerando uma espécie de semi-estado curdo próprio, com gestão econômica, governo político e forças armadas próprias.
Com o risco real de ser derrubado, Al-Assad recebeu forte apoio militar da Rússia, que fez uma intervenção diretamente no território, a chamado do governo oficial da Síria, mas principalmente para defender seus interesses estratégicos. Pois havia, desde os tempos da URSS, duas grandes bases militares no litoral sírio do Mar Mediterrâneo, uma naval e outra aérea. Entretanto, apesar disso, seu governo e regime foram paulatinamente se desagregando, chegando ao seu final em dezembro de 2024.
A ofensiva final
Condições mais favoráveis para a derrubada de Al-Assad começaram a se abrir com o prolongamento da guerra por procuração na Europa, após a invasão da Rússia na Ucrânia (com o relativo desgaste político e militar russo e a diminuição das suas condições de intervir belicamente em outros lugares). Além disso, o genocídio promovido pelo Estado Sionista de Israel na Palestina e as vertentes de sua guerra com o Hezbollah e o Irã colocaram ambos em dificuldade de respostas em apoio a Al-Assad. E, de modo ainda mais imediato, houve uma recente trégua entre Israel e Hezbollah, que neutralizou ainda mais este último para uma ação defensiva dentro da Síria, forçando seu completo recuo e saída do território sírio para o Líbano.
Enquanto isso, o conglomerado de forças armadas de oposição, especialmente sua coluna principal, o Hayat Tahrir al-Sham – HTS (Organização para a Libertação do Levante), jihadista de vertente sunita salafita, com histórico de extrema violência e intolerância (o HTS tem raízes na Al-Qaeda e na Frente al-Nusra e com passagem pelo Estado Islâmico – ISIS), estava recebendo apoio militar bélico externo e se preparando para a ofensiva que acabou sendo vitoriosa. A principal liderança inconteste do HTS ficou conhecida pelo “nome de guerra” Abu Mohammed al-Jolani.
Com a derrota e fuga de Al-Assad, seus familiares e alguns membros do seu governo também fugiram. Enquanto isso, parte da elite política, militar e burocrática do seu governo iniciou negociações de espaços de poder ou, ao menos, de sobrevivência, com algumas das frações vitoriosas do conflito.
Do lado das forças vencedoras, continuam ocorrendo disputas/acordos para governar uma Síria fragmentada e os diversos territórios ocupados por cada uma delas. A situação de relativa trégua não afastou o risco de ataques religiosos contra muçulmanos alauítas (base principal de Al-Assad), cristãos, drusos e xiitas, e continuaram os conflitos com os curdos. Tudo em meio a contraditórios interesses econômicos, familiares (clãs patrimonialistas tradicionais), políticos e religiosos e suas respectivas interconexões internacionais.
Os palestinos ficaram em situação mais isolada, porém o desgaste do Estado sionista de Israel forçou uma trégua com troca de reféns e presos e início de negociações. O Hezbollah foi forçado a recuar do território que ocupava na Síria e o Irã perdeu alianças, ficando mais isolado. O chamado “Eixo da Resistência” (formado por Irã, Hezbollah, Hamas, os Houthis do Iêmen, e o governo de Al-Assad) ficou enfraquecido e terá maiores dificuldades de comunicação terrestre entre si.
Já a Turquia é a força exterior mais vitoriosa. Sai mais forte no seu objetivo estratégico de ser uma potência regional expansionista, com intenção de retomar parte dos territórios do antigo Império Otomano. Consolida territórios ocupados dentro da Síria, especialmente na fronteira e na região curda, e tentará manter influência para tutelar, de algum modo, as forças vitoriosas do Hayat Tahrir al-Sham – HTS, liderado por Abu Mohammed al-Jolani. E continuam os riscos de uma nova ofensiva contra povo curdo, que são os principais inimigos dos turcos na região. Os curdos são um povo-nação que luta legitimamente por autodeterminação e por seu Estado Nação. Agora, podem sofrer mais ataques tanto dos turcos (do Estado turco e seus prepostos dentro da Síria) como do jihadismo fundamentalista, que ficou livre do enfrentamento ao governo Al-Assad.
O Estado sionista de Israel é outro grande vencedor, ao menos por enquanto. Apesar da trégua e negociações, se mantém forte para suas ações colonialistas e genocidas contra os Palestinos; se beneficia do isolamento do Irã e do Hezbollah; mantém o domínio sobre os territórios sírios na Colina de Golã, já ocupados desde 1967; avançou na ocupação de novos territórios, adentrando na Síria; e aproveitou para promover bombardeios de destruição dos estoques de armas e munições do governo Al-Assad, para estes não caírem em mãos do novo governo de Al-Jolani. Afinal, ninguém sabe dizer ao certo como, mais adiante, será a relação de suas forças com Israel.
O bloco imperialista liderado por EUA, OTAN e UE está festejando, e os EUA vão manter suas bases militares na Síria, tanto no Sul quanto dentro do território curdo. Mas, sabem que os vencedores não são, digamos assim, tão confiáveis. Os países árabes que são seus aliados, como o Qatar (que tem sido o principal apoiador decisões do novo governo sírio) e a Arábia Saudita, também se sentem vitoriosos.
O Novo Governo
O novo governo encabeçado pelo Hayat Tahrir al-Sham – HTS, liderado por Abu Mohammed al-Jolani, está tentando unificar o Estado Sírio e desarmar todas as facções. Além disso, Al-Jolani está procurando mudar sua imagem. Lembramos que até a tomada do poder estatal oficial sírio, ele era considerado terrorista pelos EUA, UE, Israel, Rússia, China e a ONU, entre outros. Quando conquistou Damasco, já tinha trocado os trajes muçulmanos por uma farda militar (mais “neutra”). Agora, começou a vestir trajes ocidentalizados, como paletó, e aparece em entrevistas na mídia imperialista com barba aparada e cabelos bem penteados. Está procurando mudar a imagem, mostrando-se “moderado”, e tanto a mídia ocidental quanto a russa e chinesa passaram a tratá-lo como “líder rebelde” e não mais como “terrorista”, agora preferindo ser chamado Ahmed al-Sharaa, seu nome de família.
Todos os estados, direta ou indiretamente envolvidos no conflito, estão reconhecendo e legitimando, de fato, os novos governantes.
O novo governo decretou o fim da vigência da constituição e de todas as leis existentes, assim como de todos os cargos de governo e o fim de todas as milícias armadas, entre elas o próprio HTS e a sua fusão numa única organização militar de defesa do Estado. A pretensão, ainda não viabilizada, é colocar todas as forças militares, paramilitares e milicianas sob a direção do HTS. Na liderança de Al-Jolani, agora Ahmed al-Sharaa.
Este declarou, em fevereiro, que haverá eleições dentro de cerca de quatro a cinco anos e uma abertura para negociações entre diversas forças políticas. Mas, nomeou a maioria dos cargos mais importantes colocando militantes oriundos do HTS, como é o caso dos ministros das Relações Exteriores e da Defesa.
Recentemente, o ministro das Relações Exteriores prometeu que, em março de 2025, será formado um novo governo que, supostamente, representaria uma grande diversidade do povo sírio. Mas, nada de concreto ainda foi anunciado.
Então, formalmente, o governo atual foi instaurado interinamente pelo grupo no poder com a promessa de passar adiante o governo, até 1º de março de 2025. Formalmente, o chefe do executivo é Mohamed al Bashir, também originário do HTS. Mas, a principal liderança, de fato, é Ahmed al-Sharaa (Al-Jolani), que foi formalmente nomeado presidente interino da Síria no fim de janeiro pela coalizão que tomou o poder. Sua suposta interinidade (do “presidente”), durará até as prometidas novas eleições que definiriam uma nova constituição, e seria realizada em cerca de cinco anos. Em curto prazo, as novas leis do país serão outorgadas autoritariamente por um comitê legislativo nomeado pelo próprio Ahmed al-Sharaa.
A maior parte do novo governo está baseada em líderes do HTS que já governavam de fato a província rebelde de Idlib desde antes da queda final de Al-Assad. Lá, formaram um “Governo de Salvação da Síria”, governando de modo violento contra todo tipo de oposição e minorias étnicas e religiosas.
Não será fácil unificar o território e distribuir poder entre a própria coalizão vencedora, quanto mais com os demais grupos políticos, étnicos, religiosos, nacionais e militares que continuam agindo de modo relativamente autônomo no país. Muito menos será fácil expulsar as forças armadas estrangeiras que estão no país. Todas os estados que têm presença militar dentro da Síria (Turquia, Israel, Rússia e EUA) pretendem manter suas bases e/ou territórios ocupados.
Por outro lado, os curdos, que, nos últimos 10 anos, conquistaram uma relativa autonomia na maior parte de seu território na Síria, provavelmente deverão manter sua resistência e organização político-militar, pois sua luta não era simplesmente contra o governo Al-Assad. É pela formação de um estado próprio ou, no mínimo, temporariamente, uma ampla autonomia. Além disso, para EUA, Israel, Rússia e Irã, parece melhor uma Síria fragmentada do que unificada por um governo que seja ou possa se tornar “problemático”.
As Relações Internacionais
O novo governo tem procurado se mostrar amigável a todas as potências do ocidente ou do oriente. Busca a suspensão de sanções contra a Síria que foram impostas durante o governo de Al-Assad pela União Europeia e os EUA, principalmente.
Os EUA, que acusavam Al-Jolani de ser um “Terrorista Global Especialmente Designado” – e chegaram a prometer uma recompensa de 10 milhões de dólares por sua captura ou morte – agora revogaram a recompensa, depois de uma reunião de importante diplomata estadunidense com Ahmed al-Sharaa (Al-Jolani).
As matérias jornalísticas demonstram que a mídia ocidental, de modo geral, assim como seus governos, classes e elites dominantes estão apostando no novo governo daqueles anteriormente considerados por eles como terroristas. Porém, ainda de modo mais reticente, assim como a Rússia e a China.
O novo ministro das Relações Exteriores da Síria foi amigavelmente recebido no encontro do Fórum Econômico de Davos, em janeiro. Ministros das Relações Exteriores da França, Alemanha, Itália e Espanha já foram se encontrar com Ahmed al-Sharaa em Damasco, além de um encarregado da União Europeia (UE) e comitivas dos EUA, ONU, Reino Unido. Sem surpresas, também o visitaram diplomatas do Qatar e Arábia Saudita. Também se apresentaram uma representação da Ucrânia e o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Mikail Bogdanov, no final de janeiro. Interessante notar que os ministros da França e a ministra da Alemanha foram juntos na vista a Ahmed al-Sharaa, mas ele só apertou a mão do homem, recusando o gesto à ministra mulher.
O Irã, através do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, deu declarações ambíguas, dizendo que defende a soberania e integridade da Síria, com o povo decidindo seu futuro. Mas não se manifestou sobre o novo governo. Já o novo ministro das Relações Exteriores da Síria alertou o Irã para não “disseminar o caos” no seu país.
Entre as potências imperialistas, quem mantinha as melhores relações com o governo de Al-Assad eram a Rússia e a China. Assim como a Rússia, que agiu militarmente em defesa da Al-Assad, a China também foi pega de surpresa com a queda rápida e sem resistência do ditador.
A China não teve participação militar na Síria, mas tem muitos interesses no país. Em setembro de 2023, Al-Assad esteve na China, fazendo acordos de parceria estratégica, incluindo a Nova Rota da Seda. E a China era um dos mais importantes parceiros comerciais da Síria, tendo um saldo comercial amplamente favorável à China.
Após a queda do seu governo, o porta-voz chinês fez declarações genéricas, demonstrando esperar uma resolução pacífica dos conflitos. Depois, o ministro das Relações Exteriores da China declarou que apoia um plano de reconstrução do país que atenda os desejos do povo através do diálogo.
Como se sabe, a China não costuma demorar muito para atar relações com qualquer tipo de governo. Provavelmente, vai oferecer comércio bilateral vantajoso para si, que ela chama de “ganha-ganha”, e exportação de capitais (investimentos, empréstimos financiamentos) usando o discurso de “reconstrução” da Síria, de busca do chamado “multilateralismo” e suposto “futuro compartilhado” num mundo “harmônico”. Contanto, é claro, que obtenha vantagens econômicas ao menos de médio prazo. Assim, tenta garantir os caminhos para a “Nova Rota da Seda” e o melhor posicionamento para uma disputa interimperialista continuada com os EUA.
A Rússia continua negociando os detalhes para a manutenção de suas grandes bases militares na Síria. Sua única base naval junto ao Mar Mediterrâneo (em Tartus) e uma base aérea em Hmeimim (próxima da cidade costeira de Latakia) são fundamentais para sua presença no Oriente Médio e no Mediterrâneo, bem como para conexão com a África. Provavelmente vai tentar negociar outros interesses, pois pode estar esperando mais algumas retribuições, além da manutenção de suas bases militares, pois, digamos assim, teve uma posição de conciliação e omissão pragmática, colaborando, de fato, para uma queda final quase pacífica de Al-Assad. E, afinal, a Turquia (que foi traiçoeira com a Rússia) é uma semialiada e recebeu status de “país parceiro” do BRICS. E a Arábia Saudita já foi convidada a ser membro pleno do BRICS. É claro, sabemos que ambos esses Estados fazem jogo duplo entre o BRICS-Rússia-China e a OTAN-EUA-UE. E têm seus interesses próprios na região e dentro da Síria.
As lições do processo
Dessa forma, o final da dinastia Al-Assad deixa diversas lições, especialmente para dois tipos de interpretações equivocadas e idealistas da realidade.
Por um lado, evidenciou o erro daqueles que até o dia da queda de Al-Assad continuavam dizendo que ali estava um governo supostamente “anti-imperialista”, que defendia interesses populares e continuaria tendo base social e militar para realizar uma contraofensiva. Ou que acreditavam que Rússia, Irã, Iraque e Hezbollah fariam uma forte e abrangente intervenção militar para salvar o regime moribundo e seu presidente.
Por outro lado, desvela a ilusão dos que comemoraram a sua queda supondo que haveria uma solução democratizante para a crise. Em primeiro lugar, desconsideram a configuração jihadista, violenta e intolerante dos grupos que tomaram o poder e dos riscos inerentes para a diversidade étnica, religiosa e de interesses de classe altamente conflitantes na região e, tampouco, suas relações com forças imperialistas e potências regionais. Não perceberam que as energias mais democratizantes e populares que estiveram presentes nas primeiras manifestações de massa em oposição ao regime ditatorial de Al-Assad foram, de modo relativamente rápido, atropeladas, seja pela repressão violenta e criminosa do governo Al-Assad, seja pela insurgência de grupos fundamentalistas e terroristas com apoio dos EUA e outros interesses espúrios.
Essa é a situação imediata e um futuro próximo. Mas, isso não significa que não possa ressurgir um movimento social de caráter popular e democrático. Como vimos, há um quadro repleto de contradições. O futuro da crise estrutural do capitalismo, dos conflitos interimperialistas, assim como da luta anti-imperialista, de classes, democrática e contra todas as opressões, sempre deixa espaços em aberto para sujeitos que lutam contra o imperialismo, o capitalismo, as ditaduras e todas as formas de opressão.
Pela autodeterminação da Síria nas mãos do povo sírio!
Pela saída de todas as tropas estrangeiras (Israel, EUA, Turquia, Rússia) do território sírio!
Por um estado laico, com liberdade plena para todas as religiões!
Não a todo tipo de perseguição e discriminação a minorias étnicas e religiosas!
Por liberdades democráticas de manifestação, expressão e organização para o povo!
Pelo direito do povo curdo à sua independência e Estado nacional!
Coordenação Nacional da Ação Popular Socialista (CNAPS)