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Precisamos começar este texto com uma afirmação difícil, mas necessária: temos uma profunda dificuldade em dialogar de forma eficaz com setores da classe trabalhadora que se sentem atraídos por figuras como Pablo Marçal, especialmente entre os jovens das periferias. Este texto, certamente, não tem uma resposta mágica para tal problema. No entanto, nossa intenção é dialogar com os setores progressistas, que tampouco possuem uma resposta pronta, mas que se pretendem sérios na busca por ajustar suas estratégias de comunicação para conquistar os corações e mentes da classe trabalhadora. Mais do que isso, precisamos reconhecer e superar nossa crise de identidade e relevância, onde a adaptação às instituições representa concretamente um obstáculo ao nosso potencial revolucionário.

A comunicação da esquerda precisa ser repensada. Marçal, com sua promessa de sucesso rápido e individual, tem conquistado um público que vê em suas palavras uma solução imediata para os desafios do cotidiano, enquanto a esquerda, muitas vezes, parece desconectada dessa realidade. Em um ambiente onde a informação é consumida de maneira instantânea e superficial, a profundidade e a complexidade das nossas ideias frequentemente não conseguem competir com a simplicidade e o apelo emocional que figuras fascistas com apelo popular oferecem. A esquerda institucional é frequentemente percebida como alheia aos desafios diários enfrentados pelas comunidades mais vulneráveis, o que permite que sujeitos como Marçal se posicionem como verdadeiros porta-vozes dessas pessoas. A narrativa de “ter vindo de baixo” e “chegado lá” reforça a ideia de que é possível alcançar “o sucesso” sem passar pelos caminhos de organização coletiva que defendemos, criando a ilusão de que o esforço individual é o único caminho para a ascensão social.

A promessa de prosperidade pessoal, apesar de muitas vezes ilusória, toca em um desejo profundo de superação e reconhecimento, especialmente entre os jovens, e isso não pode ser subestimado. Esse desejo precisa ser abordado com seriedade, mas de maneira que mostre que o sucesso individual pode e deve fazer parte de um projeto coletivo de transformação social, e não à parte dele. Neste ponto, a crise de identidade e propósito dentro da própria esquerda é gritante. A tentativa de se adaptar ao jogo eleitoral dilui em níveis homeopáticos o discurso revolucionário e afasta (quando não esconde) nossas raízes militantes. Os trabalhadores não são ingênuos e percebem a incoerência, o que enfraquece nossa capacidade de buscar conexão com as bases e de oferecer uma visão de futuro que seja tanto inspiradora quanto viável.

Construir a campanha de Guilherme Boulos é, sem dúvida, uma resposta imediata e fundamental diante do avanço de figuras como Pablo Marçal. Boulos, com sua trajetória de luta e sua capacidade de mobilizar setores populares, representa uma alternativa ao fascismo com apelo popular que tem ganhado terreno. Sua campanha é uma oportunidade de mostrar que existe um caminho diferente, baseado na solidariedade e na construção coletiva de soluções para os problemas que afligem a sociedade. No entanto, é igualmente importante reconhecer que a campanha de Boulos, por si só, não será suficiente para enfrentar os desafios estruturais que enfrentamos.

A APS defende e milita cotidianamente pela construção de um diálogo contínuo e profundo com as periferias, que vá além do período eleitoral. A campanha de Boulos deve ser o ponto de partida para uma reconexão mais ampla com os setores precarizados e vulneráveis, e também com a juventude, algo que precisa ser sustentado e ampliado após as eleições. E isso não é possível em negociação com a Faria Lima. Isso implica em fortalecer movimentos sociais, apoiar iniciativas locais e garantir que as vozes das comunidades marginalizadas sejam ouvidas e incorporadas nas decisões políticas de maneira contínua e urgente. Ousar lutar, ousar vencer!

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