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Estamos diante da iminência da ascensão da extrema-direita ao poder na França pela primeira vez desde a libertação da ocupação nazista em 1945. Não é novidade para nenhuma análise de conjuntura o tamanho do retrocesso que representou a vitória da extrema-direita no primeiro turno das eleições legislativas francesas, ocorrido no último domingo, 30 de junho.

Emmanuel Macron, cujo mandato termina em 2027, provocou a antecipação do processo eleitoral após a contundente vitória do Reagrupamento Nacional (RN) nas eleições europeias na França. Agora, assistiu à vitória acachapante do mesmo grupo, que conquistou 33% dos votos, enquanto Macron amargou o terceiro lugar na preferência dos eleitores (que compareceram massivamente, é importante registrar). O resultado das urnas, sem dúvida, deve ser colocado na conta de Macron. Ou seja, é um reflexo direto das falhas de suas políticas neoliberais, reformas anti-povo e brutal repressão aos movimentos sociais.

A Nova Frente Popular (NFP), composta por partidos de esquerda como o França Insubmissa (LFI), defende mudanças radicais na Constituição e medidas econômicas, como o aumento do salário mínimo e maior investimento nos serviços públicos. Apesar desse posicionamento firme e necessário, a realidade é que o povo tem bons motivos para não ver diferenças entre os candidatos políticos nos períodos eleitorais, mesmo os de diferentes partidos. Nesse sentido, a extrema-direita, fantasiada de “combatente do sistema”, é vista pela classe trabalhadora como uma alternativa.

Em uma manobra defensiva de tentativa de resposta, mais de 200 candidatos, incluindo 118 da NFP e 78 da aliança de Macron, retiraram-se nesta terça-feira (2/7) das eleições para evitar a maioria absoluta do RN no segundo turno, marcado para 7 de julho. Tal movimento é um sinal inequívoco da necessidade de uma frente democrática unida, na tentativa de diálogo com a população para evitar todo e qualquer voto para o fascismo, uma verdadeira “corrida contra o tempo”.

Ainda não é possível cravar um resultado final sobre as cadeiras do Parlamento antes do segundo turno, pois o sistema eleitoral francês para o Legislativo é bastante complexo. O percentual de votos por si só não estabelece o número de deputados que um partido ou uma coligação conseguirão no fim das apurações. É necessário que seus candidatos vençam nas circunscrições onde concorrem. Ainda assim, é importante destacar o que significa a vitória do fascismo na França, se consolidada, tanto no país quanto no cenário internacional.

Internamente, a agenda econômica neoliberal da extrema-direita prevê uma intensificação (ainda pior) da repressão aos movimentos sociais e trabalhistas, desmantelamento de políticas sociais e aumento da xenofobia e do racismo. Marine Le Pen não esconde sua preferência por adotar medidas restritivas no atual sistema de imigração e institucionalizar uma retórica xenófoba, que cria um ambiente hostil contra imigrantes e minorias étnicas. As políticas repressivas de Estado também podem fechar sindicatos, por exemplo, enfraquecendo a capacidade de resistência e mobilização dos trabalhadores franceses, resultando em maior desigualdade e pobreza.

Internacionalmente, não é difícil prever a desestabilização da União Europeia, enfraquecendo o compromisso francês com a integração europeia e impulsionando movimentos separatistas e eurocéticos em outros países. Além disso, essa vitória fortaleceria movimentos de extrema-direita globalmente, exacerbando tendências autoritárias e nacionalistas, inclusive no Brasil. A “despriorização” das políticas ambientais na França impactará negativamente os esforços globais para combater o aquecimento global, prejudicando as metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris. Ou seja, a eventual vitória do RN representaria o fortalecimento das forças reacionárias e do capital monopolista, intensificaria a exploração e opressão das classes trabalhadoras e marginalizadas e aceleraria a crise do capitalismo global.

Nós, da Ação Popular Socialista (APS), não admitimos Macron como interlocutor da defesa da Democracia. A depender dos resultados do segundo turno, ele será o responsável por entregar à extrema-direita o comando do país. No entanto, neste momento, a unidade contra o fascismo é a nossa bússola política. Estamos incondicionalmente ao lado da classe trabalhadora francesa e convocamos todos os militantes, sindicatos e movimentos sociais a se mobilizarem, fortalecendo a unidade e a resistência popular em defesa da democracia. Ousando lutar, venceremos.

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