A sociedade brasileira desde a independência vem cultuando a figura do herói como o responsável por resolver com uma só ação todos os problemas que afligem a nação.
A independência não se deu naquele grito, os direitos sociais não foram dados pelo governante iluminado, as leis que regulam os direitos humanos não surgiram da boa vontade dos homens que dirigiam os espaços que as formulavam.
Os heróis, na historiografia brasileira hegemônica, surgem como uma forma de apagar os conflitos, de tirar a palavra luta, conquistas e batalhas do imaginário social. O objetivo ao se fazer essa movimentação é sempre creditar a um único sujeito toda uma luta que sem o sacrifício de milhões não seria possível.
Mas porque falar de herói hoje? Agora? Nesse momento? É porque uma sociedade que foi historicamente formada propagando que homens resolveram as questões mais complexas com simples gestos, vai ficar sempre na expectativa que algum sujeito surja em meio ao caos e resolva todos os nossos problemas com um pequeno ato.
O herói precisa dessa omissão da sociedade para sobreviver, ele no alto do super ego, precisa que uma parte diga não, para ele reafirmar o seu sacrifício em prol de um objetivo que nunca vai conseguir só, mas ele vai jurar que sem o seu ato nada seria possível.
Assim agem os nossos heróis, fingindo sacrifícios, apagando os conflitos e sobrevivendo, reproduzindo o mito do herói nacional que só serve para manutenção do projeto de poder que vem dirigindo o Brasil, sempre trocando de nomes e de modelo, e sempre cedendo as regalias das grandes elites e aos acordos com o mercado financeiro.
Os nossos heróis apontam para a ruptura, para o radicalismo, mas nunca o fazem, pois radicalizar, superar o modelo de sociedade que vem sendo implementado coloca em risco a sua própria sobrevivência.
Os heróis sempre vão defender a mesma tese, darão as mesmas respostas, independente do contexto, o que os torna uma figura obsoleta nos dias de hoje, pois o desafio que se apresentam com a pandemia e o período histórico que vivemos vem provocando questionamentos que os heróis não podem responder.
Responder a altura os novos desafios significa apontar uma ruptura social que coloca em risco os velhos dogmas, que derruba as velhas sínteses e coloca no centro do debate um novo modelo de sociedade que tenha como norteador um programa radical que defenda a vida e os direitos sociais como moradia, emprego, renda, educação e saúde para todos.
Logo o inimigo do herói não é o vilão, é a sociedade civil que constrói modelos de organizações que são capazes de avançar na luta pela liberdade e pela emancipação do nosso povo sem necessariamente abraçar o personalismo, o importante é o programa, a construção coletiva que apaga a figura do herói e torna as lutas e o seus processos históricos o novo paradigma.
Danilo Pereira