Este ano o Primeiro de Maio será diferente para os trabalhadores, devido à pandemia do novo coronavírus e o necessário distanciamento social para reduzir a curva de contaminação da covid-19. Realizar um palanque virtual no dia dos trabalhadores foi uma decisão acertada do fórum das Centrais e poderia ser uma grande oportunidade de apresentar para milhões de trabalhadores, em quarentena em suas casas, a construção da resistência da classe aos ataques do governo Bolsonaro aos direitos trabalhistas e sua política de desmonte do Estado. Infelizmente as grandes centrais optaram por convidar para o palanque virtual alguns dos nossos maiores inimigos de classe, como Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, Dias Tófolli e Fernando Henrique Cardoso, entre outros, que atuam a serviço da burguesia e em benefício do mercado financeiro.
Os que defendem a presença de alguns dos nossos maiores algozes no mesmo palanque alegam a tática de frente ampla contra Bolsonaro. Querem transformar o dia dos trabalhadores em outra coisa – uma unidade com vários dos que apoiaram Bolsonaro, direta ou indiretamente, e que também carregam a responsabilidade pelo descalabro deste governo. Que inclusive têm estado com Bolsonaro na aprovação dos mais duros ataques aos trabalhadores, como a reforma da Previdência e a reforma trabalhista. O que podemos ter em comum com essas ilustres figuras, para passarmos com eles o dia dos trabalhadores, de tanta memória de luta? Vale a pena dar o lustro do simbólico Primeiro de Maio a quem tem como posição de princípio a redução dos direitos trabalhistas como forma de sustentar os lucros do Capital?
Não temos em comum com essas figuras sequer a disposição de derrubar Bolsonaro – vários deles fizeram discurso bastante contemporizador em relação aos gritantes crimes de responsabilidade que Bolsonaro tem cometido em série. Nenhum deles repudiou firmeza a demonstração de desprezo, por parte de Bolsonaro, pelas liberdades democráticas, ao participar de ato golpista, e de menosprezo pela vida do nosso povo, ao defender o fim prematuro da quarentena, sem que nosso sistema de saúde tenha condições de suportar a explosão dos casos de covid-19. Para eles é mais importante manter a estabilidade política porque querem o congresso livre para votar ataques aos direitos dos trabalhadores, que continuam sendo enviados pelo governo Bolsonaro, como a redução de salários e jornada, congelamento de salários e redução de direitos trabalhistas. As Centrais que os convidaram – Força Sindical, CUT, CTB, UGT, Nova Central e CSB – estão entre aquelas que sempre buscaram negociar o mal menor. Com esse absurdo convite, essas Centrais veem a unidade com a direita parlamentar, o braço da burguesia na política, como uma mão possível de ser segurada, um palanque disponível para ser compartilhado em nome de se fazer uma frente ampla e domesticada contra Bolsonaro. Não com a nossa voz, não com os nossos braços, não com nosso suor!
Entendemos a importância da unidade na luta, temos acordo de que precisamos chamar todos que queiram lutar para derrubar Bolsonaro, mas é fundamental demarcar publicamente no Primeiro de Maio o caráter de classe da nossa luta. Nesse momento em que a quarentena impossibilita que a resistência popular se expresse nas ruas e dificulta a luta direta contra o governo Bolsonaro, entendemos que a gravidade do momento não nos dá o direito de trair a classe com projetos de conciliação com nossos inimigos. Não estaremos no mesmo palanque dos que sustentam os exuberantes lucros dos banqueiros, daqueles que encaminham projetos de precarização dos trabalhadores, dos que negociam preceitos constitucionais nos palácios em nome da estabilidade. Por isso pedem que Bolsonaro renuncie e que Mourão possa seguir tocando o programa neoliberal que essas figuras defendem. Estabilidade para quem? Sequer as instituições republicanas estão sendo respeitadas, como demonstra a intervenção de Bolsonaro na Polícia Federal. Enquanto isso o povo arrisca a vida em filas intermináveis e aglomeradas para receber a ajuda ainda insuficiente aprovada pelo clamor do povo; os pedidos de seguro desemprego explodem, desnudando o caráter mais cruel da crise econômica que já vinha de antes da pandemia; Guedes e Weintraub continuam debochando em pronunciamentos públicos dos servidores públicos e dos trabalhadores da educação.
Defendemos o Fora Bolsonaro/Mourão o impeachment para reestabelecer um novo processo eleitoral com novas eleições gerais sem as fraudes das Fake News pagas por empresas. A unidade da esquerda passa pela construção de um programa emergencial para superar a crise e abrir condições de apontar um programa radicalmente democrático e popular, de transição para o socialismo.
Por fim, não poderíamos deixar de prestar nossa homenagem aos trabalhadores dos serviços essenciais, como os da saúde, que seguem heroicos arriscando suas vidas para lutar pela vida do nosso povo. A esses trabalhadores, simbolizando o trabalho de toda a classe, nossos agradecimentos!
Convocamos os trabalhadores de luta para um Primeiro de Maio Classista, sem a presença dos inimigos da classe trabalhadora, para a construção da resistência e luta contra os ataques do governo Bolsonaro!
Resistência e Luta, corrente sindical e popular – 29 de abril de 2020.