A pandemia do Coronavírus afeta o mundo todo. De repente percebemos a fragilidade da vida diante de uma ameaça invisível. Dessa vez não é o Ebola que ceifa a vida de milhares de seres humanos vivendo na miséria a que o continente africano está mergulhado. Não é a fome que mata milhares de crianças todo dia. Dessa vez é um vírus que começou a se disseminar por aqueles que viajam pelo mundo, mas vai, inexoravelmente, ceifar a vida dos mais pobres também. O Covid-19 chegou ao Brasil depois de passar por todo o hemisfério norte e pela China, país que originou o novo coronavírus.
O fato de ter demorado um pouco a chegar no Brasil nos permite ter alguma vantagem já que, pelo menos em tese, se sabe muito mais sobre as formas de transmissão, tempo de incubação, populações mais vulneráveis, taxa de letalidade, medidas profiláticas e etc. Mas essa “vantagem” de nada vai adiantar se as medidas preventivas demorarem a ser adotadas e se o nosso sistema de saúde pública não estiver preparado para recepcionar a demanda que virá. Se é verdade que precisamos evitar o pânico, também é verdade que precisamos adotar medidas eficazes no enfretamento da pandemia. A taxa de mortalidade é relativamente baixa, mas a propagação é em escala exponencial.
O Brasil tem, segundo o Ministério da Saúde (MS), 14,8 mil leitos de UTI para adultos. Destes, cerca de 14 mil (95%) já estão ocupados. Ainda segundo o MS serão necessários, pelo menos, mais 2,9 mil novos leitos. O Brasil é o único país com mais de 200 milhões de habitantes que possui um sistema universal de atendimento (uma conquista da luta popular por saúde), mas é preciso lembrar que há alguns anos esse sistema vem tendo suas bases minadas pela lógica neoliberal de que o estado tem que se desresponsabilizar com a saúde pública. A aprovação da Emenda Constitucional – 95 (EC95) que trata do congelamento dos gastos em saúde e educação, retirou, só no ano passado, mais de R$ 20 bilhões do orçamento para a saúde, lembrando que 75% da população brasileira não tem planos de saúde privados e depende exclusivamente do SUS. Por isso é urgente a revogação imediata da EC-95!
Estamos vendo, com um certo atraso, algumas medidas preventivas serem adotadas por estados e municípios. Medidas que vão desde a proibição de grandes aglomerações até restrições a eventos esportivos e culturais. Em muitos estados aulas foram suspensas (ainda que alguns especialistas critiquem essa medida) e empresas já estão trabalhando esquema de homeoffice, ou seja, trabalho a distância. Mas a lógica capitalista insiste em se impor mesmo nesses momentos de crise. Algumas empresas querem dispensar trabalhadores(as) mas sem pagar o salário, outras querem isenção de impostos e contribuições obrigatórias. O governo se preocupa com as empresas, mas deixa 3,6 milhões de famílias, a maioria abaixo da linha de pobreza, esperando na fila do Bolsa Família.
Não há dúvidas de que a profunda desigualdade social no Brasil, a destruição do SUS e as altas taxas de desemprego, subemprego e emprego informal, vão fazer com que a maioria mais pobre da população seja a principal vítima da pandemia. Precisamos de medidas preventivas eficazes, campanhas educativas sistemáticas, rapidez na tomada de decisões, ampliação do atendimento nas unidades básicas de saúde e mais leitos hospitalares. Pelo que se vê a maioria dos municípios e estados não está preparada para essa situação de pandemia.
Em Belém a prefeitura ainda não informou quais as medidas preventivas serão adotadas. A exemplo da situação dos alagamentos há uma demora excessiva, uma paralisia na esfera executiva que penaliza, como sempre, a população mais pobre. Já passou da hora da prefeitura definir ações e medidas para evitar a propagação em massa do vírus. Desde 11 de março que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o novo coronavírus como uma pandemia mundial. A demora em agir pode significar perda de vidas humanas. Ademais precisamos saber se Belém tem a estrutura médica e hospitalar adequada para enfrentar essa pandemia.
Além das medidas governamentais é preciso que todos e todas comecem a adotar medidas individuais de higiene e sanitárias para evitar o contágio. Nessa hora a informação é uma poderosa arma de prevenção.
Fernando Carneiro
Vereador líder do PSOL na CMB
Direção Nacional do PSOL
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