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É preciso uma candidatura e (uma prefeitura) antirracista. Que denuncie, sem tergiversar, os abusos e racismos da política de ACM Neto e do governo do PT na Bahia. Não pode haver silêncio sobre o extermínio que o povo negro vem sofrendo. Artigo de Rafael Bomfim*, a seguir

Não haverá nada sobre nós, sem nós – uma breve reflexão sobre Salvador, genocídio e eleições

Por Rafael Bomfim*

“Avisa ao americano: eu não acredito no Obama”

(BaianaSystem).

Tem aumentado o debate político sobre a necessidade de um prefeito ou prefeita negra em Salvador, a cidade mais negra do mundo fora de África. Inegável que, em tempos de avanço das tendências conservadoras, ultradireitistas e práticas neofascistas, ter uma pessoa negra à frente de uma cidade tão fundamental como a “Roma Negra” seria muito mais do que simbólico. Seria a reafirmação latente de nossas resistências há mais de 500 anos.

Entretanto, é imprescindível colocar em mesa alguns questionamentos fundamentais que podem, inclusive, nos guiar nesse debate. Porque só agora? Porque nunca tivemos em Salvador uma prefeitura com a nossa cara? Parte dessa resposta se dá pelo fato de nossa sociedade estar imersa desde sempre em concepções racistas de caráter estrutural e estruturante. Um Brasil dominado pelas grandes elites econômicas e empresarias. Um Brasil gerido por um regime “cisheteropatriarcal” excludente e que tem como foco o aprofundamento das desigualdades sociais e o isolamento, na participação social e política, dos trabalhadores e trabalhadoras, das mulheres, negros e negras, LGBTs e indígenas.

Os últimos anos foram de combustão social e giros conjunturais jamais previstos por nós. Saímos de um ciclo de governos conciliadores que nos proporcionaram alguns avanços sociais e tímidas reformas, para governos ultraliberais e extremamente conservadores. Muito poderia ter sido feito nos governos do PT, incluindo diversas reformas estruturais e outras tantas políticas sociais. Mais ainda. Muito poderia ter sido feito no combate ao racismo e no fortalecimento das lutas dos movimentos negros e sua inserção também na política institucional. Mas a opção feita pelos governos do Partido dos Trabalhadores foi a de garantir ao povo alguns direitos e manter a estrutura do poder político na mão dos homens brancos de sempre que são, em sua maioria de centro e direita, e que formam a base política e o cerco de aliança do PT. Na Bahia são até hoje, basta olhar o arco de alianças e sustentação política dos governos petistas de Wagner e Rui.

Mas, voltando ao debate eleitoral, cabe trazer alguns elementos. Enquanto as/os pré-candidatas/os negras/os à Prefeitura de Salvador querem ela – uma prefeitura negra, a juventude negra e todo o povo negro que vive nas periferias de Salvador e da Bahia também tem desejos e querem ela: a vida. A vida que lhe é tirada diariamente pela truculência racista da Polícia Militar artilheira de Rui Costa nas ruas de nossas cidades, na negação, á saúde à educação com o fechamento de escolas como o Odorico, no desemprego, na dificuldade de acesso à aposentaria. É preciso sair de um debate que perpasse só no fato de um negro ocupar aquela prefeitura, e se deslocar para um programa político que pense realmente nas necessidades e na vida desse povo negro que dizem representar.

Não adianta termos um/a prefeito/a negro/a, seja lá de qual partido for, se existir um silenciamento diante da política racista e genocida do governo do PT na Bahia e da articulação de ACM Neto, na sua tentativa de ganhar o governo em 2022. Os riscos e limites da representatividade pela representatividade podem nos colocar em uma situação complicada onde poderemos ter uma prefeitura negra que silencia e compactua, por atitudes comissivas ou omissivas, com todas as políticas do governo petista racista de Rui Costa e ACM Neto. A representatividade importa, e muito. Porém, mais do que isso, precisamos de uma representatividade que esteja atrelada a um programa político que pense no povo de Salvador, sobre uma perspectiva diferente da que ACM Neto desenvolve e que Rui Costa projeta. Um povo que tem cor. Esse povo negro que sofre dia a dia com o extermínio, mas resiste bravamente nas ruas, nas ocupações, contra o fechamento de escolas, em defesa do direito à moradia, contra o genocídio, nas lutas, reafirmando que o Cabula vive e que não recuaremos nas nossas lutas.

De fato, NÃO HAVERÁ NADA SOBRE NÓS, SEM NÓS. E isso eu coloco da seguinte forma: se seguirmos morrendo com a política racista e de extermínio de Rui Costa (PT), não haverá nós. E não haverá nada sobre nós. O simbolismo que uma candidatura negra carregará é imensurável. Porém é preciso que tenhamos uma candidatura e uma prefeitura antirracista. Que denuncie, sem tergiversar, os abusos e racismos da política de ACM, o neto, e do governo do PT na Bahia. Não haverá representatividade que se sustente diante do silêncio sobre o extermínio que nosso povo preto vem sofrendo, sobre a retirada da aposentadoria, sobre a precarização da educação, sobre o fechamento das escolas, sobre a destruição do serviço público baiano, sobre as concessões à especulação imobiliária, enfim, sobre nós e nossa real situação diante de toda essa política de morte no Brasil e na Bahia.

* Por Rafael Bomfim – Jovem negro, estudante de Direito na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), cotista, militante antirracista e de esquerda.

Os artigos publicados não representam necessariamente a posição do site

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