O assassinato do general iraniano Qassem Sleimamani e de dirigentes das unidades de Mobilização Popular iraquianas apresenta uma nova forma da prática criminosa do imperialismo dos EUA. Artigo de Eliziário Andrade, a seguir.
A crise e a guerra sem fim do capitalismo
Por Eliziário Andrade*
O assassinato do general iraniano Qassem Sleimamani e de dois dirigentes das unidades de Mobilização Popular iraquiano executado pelo imperialismo norte-americano, apresenta um indicador que expressa uma nova forma da prática criminosa que este país vem pUraticando ao longo de sua história de destruição e esmagamento de outras nações povos e lideranças. Basta recordar as vítimas do serviço secreto da CIA: Lumumba (Congo), Omar Torrijos (Panamá), Che Guevara (Bolivia), tentativas diversas para assassinar Fidel Castro (Cuba), etc. Todos esses crimes foram operados de forma encoberta, camuflada e sempre negando a autoria dos mesmos. Agora, de maneira inédita, num pronunciamento público – marcado por um cinismo assustador, o presidente dos Estados Unidos não só assume a autoria dos assassinatos mais também justifica racionalmente os mesmos. Momento em que o presidente Trump se expressa mais como chefe de gangster do que de uma nação mais poderosa do capitalismo mundial. Fato que indica indubitavelmente o aprofundamento da crise moral e da escala de valores da sociedade burguesa e dos seus princípios liberais mais clássicos, do seu ordenamento jurídico nacional e internacional. De igual modo, indica a manifestação das colossais contradições do capitalismo e do polo imperialista comandado pelos EUA em sua fase de crise estrutural para a qual não há solução, a não ser através do caminho que Lenin já tinha apontado, ou é guerra imperialista ou revolução, barbárie ou socialismo.
Os conflitos bélicos capitaneados pelo imperialismo norte-americano precisam ser vistos, compreendidos e explicados na atualidade como fenômenos que surgem como expressão do colapso do período atual dessa etapa do capitalismo em que, de um lado, avança vertiginosamente a crise do capital e suas consequências econômicas e sociais, caracterizado pelo incremento do desemprego, da fragilidade do trabalho com os desmontes dos seus marcos históricos de regulamentação das relações sociais e de direitos conquistados em fases anteriores de expansão do capitalismo. Tal situação representa uma tragédia para a grande maioria da população e da humanidade que se encontra sem horizonte e perspectiva de transformações reais para suas vidas e realidades. Ainda mais, quando na atualidade o capitalismo é incapaz de realizar qualquer crescimento “sustentável” por longo período ou de permitir concessões reais e duráveis aos trabalhadores e a maioria da população. Tendências objetivas que são negadas pela perspectiva reformista que produz uma série de ilusões, difundindo falsas esperanças de mudanças qualitativa para a vida dos trabalhadores, quando nessa etapa o capitalismo só poderá sobreviver sobre a base de uma maior escalada de superexploração do trabalho, forjando para isso maior liberdade jurídico-legal que permita o capital legitimar o aumento da desigualdade social e da pobreza em níveis alarmantes. Fenômeno que revela, ao mesmo tempo, os limites do Estado em atender as necessidades básicas da reprodução da vida dos indivíduos diante dos imperativos do capital, o qual busca de forma desenfreada o aumento cada vez mais de expropriação e espoliação do trabalho com o objetivo de recompensar suas perdas diante da crise econômica mundial que a todo momento ameaça voltar como um tsunami incontrolável e irracional.
Este cenário está recortado por uma clara e inquestionável disputa interimperialista que tensiona initerruptamente a realidade mundial que se encontra a mercê dos interesses de dois grandes polos que disputam a hegemonia econômica, tecnológica e militar no mundo. Por um lado, os EUA e os aliados europeus, por outro a China, Rússia e seus aliados asiáticos e ocidentais. Neste contexto os norte-americanos desafiando o direito internacional usa o dólar para ampliar o alcance extraterritorial de suas leis através de imposição de sanções financeiras ou com intervenções militares direta em outras nações. Assim, estamos passando por uma etapa extremamente perigosa dessa disputa hegemônica que pode sair do controle e conduzir a humanidade a situações catastróficas. Isto porque, há uma forte tendência que indica a perda relativa da hegemonia norte americana no mundo e a ascensão do polo comandado pela China e Rússia, que não só estão conseguindo atrair aliados do polo oposto através de crescentes e atraentes investimentos econômicos, mais também põem em marcha esforços de avanços tecnológicos que ameaçam a supremacia norte-americana; ao mesmo tempo que trabalham a médio e longo prazo para a desdolarização da economia mundial, buscando substituir o dólar pelo yuan como a moeda mais forte no comercio internacional.
Com efeito, a ação violenta do imperialismo norte-americano assumindo publicamente os assassinatos de forma espetacular no contexto de uma crise em todas esferas do capitalismo mundial, encontra na guerra imperialista um caminho supostamente viável para restaurar suas bases de influência no mundo, apossar-se de maiores fontes de energia não renováveis, extrair massas significativa e crescentes de mais-valia em escala mundial no setor produtivo e na esfera da aplicação do capital fictício. Ademais, busca submeter um conjunto de nações aos seus interesses através de uma ordem econômica, política, ideológica mundialmente imposta a ferro e fogo. Sendo assim, essa velha ordem jamais poderá encontrar solução durável e verdadeira em sua própria essência, ou seja, em sua própria natureza, na sua forma própria de reprodução social e material. É uma tarefa histórica que caberá aos trabalhadores e os oprimidos de todo o mundo realizá-la através da revolução social e a tomada do poder.
*Eliziario Andrade é professor de história da UNEB – Universidade do Estado da Bahia
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