Declaração da APS/PSOL sobre a situação política e eleitoral na Argentina. Basta de Macri! Fora o imperialismo da América Latina! A seguir
Declaração da APS/PSOL sobre a situação política e eleitoral na Argentina
CNAPS, agosto de 2019
Antecedentes
- O peronista Alberto Fernández (que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice) venceu as eleições primárias com 47% dos votos contra 32,6% do atual presidente Macri. Se fosse a fase final das eleições, venceria no primeiro turno. O comparecimento foi elevado (75% dos eleitores). O primeiro turno será em 27 de outubro e o segundo, se houver, em 24 de novembro.
- Antes disso, na Argentina, como no Brasil, Uruguai e Paraguai houve um processo governamental de políticas “neodesenvolvimentistas”, ou seja, de um “desenvolvimentismo” rebaixado e sem sustentação econômica e política, que gerou profunda crise e criou as condições para o fortalecimento da direita e a queda dos governos dos dois mais importantes países sul-americanos, além do Paraguai. Foi uma tentativa rebaixada da já conhecida, pelo menos desde a demonstração feita pela Teoria Marxista da Dependência, nas décadas de 1960/70, sobre a impossibilidade de gerar independência nacional e desenvolvimento sustentável sem uma ruptura com o imperialismo em uma transição ao socialismo.
- O resultado foi um processo de substituição desses governos por versões mais à direita. O golpe jurídico-parlamentar que conduziu Temer à presidência do Brasil e, em seguida, à vitória da candidatura de características neofascistas de Bolsonaro, é um exemplo dessa tendência. No Paraguai, também ocorreu uma versão dos “golpes institucionais”.
- A vitória eleitoral de Macri na Argentina também é uma expressões desse projeto. Lá, o governo Macri aplicou medidas ultra liberais que pioraram a crise econômica e social e, a partir do monitoramento pelo FMI (que fez um empréstimo de 57 bilhões de dólares) e endurecimento de suas clássicas medidas de ajuste liberal, se aprofundou ainda mais.
- As consequências foram o aumento do desemprego, desindustrialização e desnacionalização da economia, inflação galopante, forte queda do poder aquisitivo, 50% de desvalorização da moeda (o peso) em um ano, taxas de juros chegando a 60%, venda de reservas cambiais, grande aumento da dívida pública e da dívida externa e dois anos de recessão, com crescimento do PIB abaixo de zero. E, finalmente, o resultado das eleições provocou um acirramento especulativo e, apesar do volumoso empréstimo do FMI, o governo foi forçado a uma moratória parcial da dívida de curto prazo.
- A crise teve e terá repercussões sobre a já cambaleante economia brasileira pois, depois da China e dos EUA, a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial e importador de produtos brasileiros.
A resistência popular e as eleições
- Mas a resistência popular ao governo Macri e suas políticas ultraliberais tem sido bem forte. Desde lutas parciais e saques de supermercados até cinco Greves Gerais, a última em 29 de maio, que foi resultado da união de todas as centrais sindicais e foi a maior das cinco. E houve uma brilhante campanha de massas pela legalização do aborto que, apesar de ter sido derrotada no Senado, obteve um grande apoio popular e chegou a ter maioria na Câmara dos Deputados, gerando uma vitória política do movimento de mulheres e um profundo desgaste do governo Macri. E a luta das mulheres continuou e em outubro de 2018 foi realizado o 33º Encontro Nacional de Mulheres Argentinas, reunindo mais de 55 mil participantes. As Greves e a campanha pela legalização do aborto mostraram também que os governos liberais e conservadores estão enfrentando resistência a suas políticas neoliberais mais radicais.
- A vitória do neoperonismo kirchnerista nas prévias eleitorais argentinas foi muito importante politicamente pois demonstrou a rejeição do povo às políticas ultraliberais e conservadoras e mostra os limites deste campo político na terceira maior economia da América Latina, coisa que já havia acontecido no México (segunda maior economia).
- Pode bloquear, ao menos em parte, a continuidade dos ataques que os trabalhadores, a juventude, as mulheres e a economia nacional vêm sofrendo e, enfraquecer em parte a ofensiva ultra liberal e conservadora na América Latina.
- Ao mesmo tempo, trará repercussões sobre o Mercosul, alterando a correlação de forças contrariamente à política exterior atual do Brasil, mesmo que esta continue no âmbito da hegemonia burguesa.
Não será um governo de esquerda
- Mas, não será um governo de esquerda e, apesar de uma retórica nacionalista popular, tampouco de rompimento com o imperialismo e o capital financeiro. Tende a reproduzir o que já foram os governos anteriores do casal Kirchner, que não tinham sido de ruptura real com a macroeconomia neoliberal. Com o agravante de que o atual candidato do grupo, Alberto Fernández, que foi chefe de gabinete de Nestor e Cristina Kirchner, e que tinha rompido pela direita com o governo, agora se reconciliou para viabilizar uma candidatura que unificasse os herdeiros do peronismo e apresentasse uma candidatura mais viável e palatável ao capital, por ser considerada mais moderada e conciliadora.
- Além das repercussões da crise argentina sobre a economia brasileira, a possível derrota de Macri também repercute negativamente sobre Bolsonaro e seu governo, na medida em que o neofascista brasileiro tem sido um entusiasta do presidente e da política econômica ultraliberal do país vizinho.
- Saudamos também os resultados das forças de esquerda que apresentaram candidaturas sendo que a de Nicolás del Caño/Romina del Plá da FIT (Frente de Isquierda e de los Trabajadores) obteve 2,83% dos votos e conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira para ir à segunda etapa da eleição. Apesar de ainda ser uma votação pequena, representa a presença esquerda revolucionária e da resistência popular radical e melhor do que os resultados obtidos pelas candidaturas dos partidos realmente de esquerda na eleição presidencial do Brasil em 2018.
Basta de Macri!
Basta de Bolsonaro!
Fora o imperialismo da América Latina!
Nossa luta é internacional!
Derrotar a direita e construir uma alternativa verdadeiramente de esquerda na Argentina e no Brasil!
CNAPS, agosto de 2019
Ação Popular Socialista – APS/PSOL
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