Bolsonaro não é o primeiro idiota a governar um país, mas é um dos mais produtivos. Em menos de dois meses, já coleciona muitos episódios grotescos. Artigo do Vereador Fernando Carneiro (PSOL-Belém)
Bolsonaro não é o primeiro idiota a governar um país, mas é um dos mais produtivos. Seu governo, em menos de dois meses, já coleciona tantos escândalos e episódios grotescos, que parece que já se passaram dois anos. São tantos que muita gente acha que se tratam de manobras diversionistas para encobrir a reforma da previdência, os ataques ao movimento sindical e outros desmontes de políticas públicas que fazem parte de sua agenda ultra-conservadora. Evidente que, quem se elegeu lançando mão dos ensinamentos de Steve Bannon e a indústria de “fake news”, se utiliza de estratégias de dissimulação para encobrir suas maldades, mas isso não explica a profusão de escândalos patrocinados pelo presidente e seus ministros.
A queda de Bebianno, ex-ministro da secretaria geral, a iminente queda de Marcelo Álvaro, ministro do Turismo, as declarações e medidas esdrúxulas de Damares Alves, Ricardo Vélez Rodriguez e Ernesto Araújo são muito mais do que manobras. São, na verdade, a expressão da mediocridade que toma conta do mais alto escalão do governo federal.
Recomendações para filmagem de menores cantando o hino e recitando o slogan de campanha de Bolsonaro, afirmar que suas duas ministras “valem por dez” no dia internacional da mulher, a afirmação de que “meninos vestem azul e meninas rosa” são apenas a ponta de um enorme iceberg no mar de estupidez que tem envergonhado a todos, inclusive alguns dos apoiadores mais fiéis do novo governo.
Mas aqui precisamos fazer uma observação importante. Quando dizemos idiota, utilizamos a definição etimológica e seus sinônimos mais usuais que são: pessoa pretenciosa, vaidosa e que carece de inteligência. Bolsonaro tem todos esses “requisitos”, mas não podemos chamá-lo de ingênuo. Ele é o que chamamos de idiota esperto e útil ao sistema. Resta evidente que ele não era o candidato preferencial das elites dominantes, mas o desgaste das elites e instituições políticas em geral, o antipetismo e o incremento políticas neoliberais radicais e de um pensamento conservador o levaram à presidência. Ainda que esse fenômeno precise ser melhor estudado, é notório que a alta burguesia começa a se sentir incomodada com o desempenho do Jair. A capacidade de articulação para a aprovação da reforma da previdência parece ser a prova de fogo.
O desconforto é tamanho que o vice-presidente, General Mourão, já aparece como possível articulador de uma trama para derrubar Bolsonaro. Ainda é cedo para afirmar a consistência dessa movimentação, mas não podemos ignorá-la. Aliás, uma das lições dessa eleição presidencial é que não podemos negligenciar nenhuma hipótese, por mais estranha que ela pareça.
Como sempre, o fator determinante para a estabilidade ou não do governo virá das ruas. A classe trabalhadora e o povo já estão percebendo a gravidade do retrocesso e se mobilizando contra os ataques. Se construirmos uma agenda unificada e um forte calendário de lutas será possível derrotar a reforma da previdência e o idiota de plantão.
* Fernando Carneiro é historiador e vereador do PSOL-Belém)